HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




A União Nacional


Menezes acha intolerável que o novo presidente do BCP venha da Caixa Geral de Depósitos e pertença, como o adjunto Vara, ao PS. Mas acha perfeitamente normal que o presidente da Caixa deva ser escolhido, em rotatividadae, entre os dois maiores partidos. Faria de Oliveira claro, foi escolhido pela sua "experiência" e "competência".



José Miguel Júdice citou a Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo de Weber para analisar a falta de ética na gestão do BCP. Segundo Júdice, Weber já dizia que a ética era fundamental para o capitalismo moderno. Então e ler o livrinho, ó Júdice? Ou pelo menos a entrada na wikipédia.


Portraits from the West Coast of Europe



O BCP, o Gangue da Ribeira e Darwin


Não querendo ser demasiado evolucionista, não será a Assembleia Geral do BCP uma espécie de upgrade do gangue da Ribeira, uma sofisticação mais subtil e eufemizada das formas de sacar massa ao pessoal?



Utilizando a arma da racionalidade numérica, Luís Filipe Menezes, já não sei bem se pela direita se pela esquerda, entrou de rompante no debate sobre o estado: em seis meses, nem mais nem menos um dia, o homem prometeu dar cabo do aparelho estatal para devolver a iniciativa à sociedade civil. Anda tudo a gozar, mas, no fundo, trata-se de uma revolução coperniciana que altera os termos do debate. Já não se trata de discutir e mandar umas bocas. O cálculo, o número, enfim, a modernidade, chegaram à discussão. E tu, em quanto tempo é que consegues dar cabo do estado?


Boas Festas



Ingratos


Se já era esperado que Ronaldo não fosse eleito o melhor jogador do Mundo quase ninguém estava à espera que ficasse em terceiro, atrás de um Messi que passou metade do ano lesionado. Para além do esperado brado de indignação que se apoderou dos jornalistas desportivos indígenas não deixa de ser surpreendente a estupefacção dos jornalistas pelo facto de o seleccionador Angolano nem sequer ter colocado o jogador português entre as suas três escolhas, que foram para Drogba, Kaká e Riquelme. É preciso terem lata. Ainda os colonizamos e os gajos, já não chegava quererem assinar um acordo ortográfico cheio de modernices modernices, recusam-se a votar num tuga para melhor do mundo.


cadernos da identidade nacional - o descobridor







Um link


De forma para alguns inusitada, o comediante José Pedro Gomes escreveu, no semanário gratuito Sexta, um dos mais interessantes artigos sobre as relações entre Europa e África. Fica o link.


http://www.abola.pt/sexta/sexta.aspx


Iranianos fodidos




Aos domingos à noite no segundo canal.


O Estado das Coisas


Aqui há uns tempos em convívio privado dos membros do Hotel discutia-se a questão do Estado e da ausência de um debate à esquerda que clarificasse posições. Finalmente a coisa estalou. Para quem quiser acompanhar a telenovela ficam os links.
Aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.



Agradeço desde já ao DN por nos ter apresentado aos Bandidos. Um grupo de Hip-Hop do Porto que não conhecíamos. Apesar do som não ser particularmente do nosso agrado, e de acordo com as palavras do DN, não podemos deixar de nos regozijar com o facto de "A música, mais do que prestar homenagem aos estetas e factos artísticos que fizeram a história do género, na maior parte dos casos serve letras de afirmação pessoal e/ou comunitária, onde cada autor/grupo fala da realidade do seu bairro, mostra que controla a zona em que ele se insere, revela destemor pelo o que o rodeia e contesta a autoridade policial." Apesar de estarmos solidários com a indignação dos jornalistas do Diário de Notícias que acham que o Hip-Hop deveria prestar homenagens aos estetas e factos artísticos que fizeram a história do género (depreendemos daqui que essa história já terminou) do mesmo modo que acham que os verdadeiros anarquistas não são violentos, que todas as mulheres têm um institnto maternal, etc, etc, etc, o facto de haver quem com os meios que tem à disposição procure dar conta da realidade onde vive não deixa de ser motivo de esperança.


A mão que embala o berço


As quebras de natalidade europeia e especialmente a portuguesa estão na ordem do dia. Os dados parecem avalizar cientificamente estas preocupações. No jornal Público de 11 de Julho o tema surgia em destaque; “Em 2006 nasceram menos 4100 bebés que no ano anterior”, o que leva a que o número médio de filhos seja de 1,36 por mulher, muito abaixo dos 2,1 necessários à renovação das gerações. Entre uma série de outros dados preocupantes, uma previsão indica que Portugal perderá até 2050 cerca de um quarto da população. Investigadores confirmam na mesma notícia que “os quatro mil bebés que nasceram a menos no ano passado vão fazer falta”. Estas preocupações revelam dois traços que continuam a caracterizar o espaço social português, e que não devemos ter receio em nomear: racismo e sexismo.
A questão ganha destaque precisamente na semana em que a regulamentação da lei da Interrupção Voluntária da Gravidez entra em vigor (15 de Julho). O Presidente da República Aníbal Cavaco Silva, mandatário de um dos movimentos que defendiam o “Não” no anterior referendo, tratou de marcar a agenda mediática com alguma antecedência. Em Braga, no Congresso das Misericórdias Portuguesas, no dia 3 de Junho, Aníbal Cavaco Silva defendeu “um novo modelo social para contrariar a tendência demográfica europeia e portuguesa para o envelhecimento da população”. Subjacente a este discurso está a ideia do papel social que a mulher deve desempenhar: parideira. Depois da derrota dos defensores do “Não” no referendo sobre a IVG, trata-se agora de recentrar o lugar da maternidade nas representações e construções sociais da identidade feminina, por um lado. Por outro lado, de re-nacionalizar os corpos através da ideia de que ter filhos é um dever cívico e não uma questão de desejo individual. De acenar com o sentimento de culpa às mulheres não apenas pela morte de uma “pessoa” por ser mas de todo um povo com uma história que remonta à origem dos tempos.
É precisamente neste ponto que o racismo entra em jogo. O problema, como as palavras de Aníbal Cavaco Silva indiciam, não é a perda populacional em si mesma. Os dados indicam, aliás, que não existe nenhuma quebra populacional. A população mundial era composta em Julho de 2007 por 6,7 mil milhões de indivíduos, estimando-se que chegue em 2050 aos 9,7 mil milhões. A redução populacional seria até bem recebida pelo planeta, a avaliar pela mais recente dimensão da pegada ecológica. O problema, revelador de uma forma de conceber a cidadania que privilegia os vínculos de sangue em detrimento de formas de participação social mais abertas, é a perda de nativos, de indígenas ou, de forma ainda mais clara, de “brancos” portugueses e europeus. Apesar do facto evidente que uma maior abertura aos fluxos migratórios pode ajudar a resolver não apenas a quebra de população em território português, como também contribuir para reduzir as profundas assimetrias que se observam entre diferentes regiões do planeta, essa hipótese é liminarmente rejeitada pelos mesmos sectores sociais que apelam a um crescimento da natalidade.
Estes apelos ocorrem, paradoxalmente, ou talvez não, num momento em que a segurança laboral, a segurança social e aquilo a que Giddens chama de segurança ontológica se tornam cada vez mais inseguras. Inseguranças pelas quais os imigrantes não podem ser de todo considerados responsáveis. A tentativa de re-nacionalizar o corpo feminino e de prender os corpos masculinos e femininos a determinados territórios observa-se num contexto que em cada vez mais as pessoas são entendidas como mão-de-obra ou, de modo mais eufemístico, capital humano, um bem transaccionável como qualquer outro. Este porém, ao contrário das restantes mercadorias e dos capitais, não se pode deslocar livremente. Os mercados auto-regulados aparentemente não se auto-regulam sem a mão direita do estado. A mão esquerda (a segurança social, o acesso universal e gratuito à saúde e à educação, etc.) por sua vez vai sendo amputada aos poucos, como tivemos oportunidade de observar nas recentes negociações da ICAR com o Estado português. Os direitos sociais vão-se transformando, aos poucos, e com a ajuda imprescindível da Santa Madre Igreja, em caridade e beneficência. A mão invisível deve ser uma entidade metafísica.

Artigo publicado numa revista da praça no mês de Setembro e agora recuperado a propósito do Prós e Contras desta semana e do que aqui se comenta.


100 anos




    António Vicente

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