HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




A estética


O despedimento de um treinador de futebol devia ser avaliado por duas razões, a instrumental e a estética. A instrumental seria justificada pelos resultados. A estética pelo tipo de futebol praticado pela equipa. A primeira é relativamente objectiva. A segunda, nem tanto. A entrada de Camacho no Benfica, mais do que outra coisa, suscita uma esperança estética. A companhia tem um novo encenador. Esperam-se coisas bonitas.



As reacções indignadas à destruição de uma propriedade de milho transgénico - prejuízos avaliados pelo ministro da agricultura em 4900 euros - não deixam de ser reveladoras. Vasco Graça Moura chegou a sugerir que se tratava do maior crime cometido em Portugal desde o amansar da revolução, exigindo a demissão do ministro e do comando da GNR e de mais não sei quanta gente. No mesmo dia, soube-se que o PSD, partido de Graça Moura e de muitos outros indignados, tido sido ilegalmente financiado em mais de 200 mil euros, isto apenas relativo ao ano de 2002. O que dizer do sentido de justiça desta gente tão indignada?


Creolização





Maddie and the making of the english middle class


O desaparecimento de uma loura criança inglesa de um empreendimento turístico algarvio tornou-se num furo mediático. A imagem da bonita criança, filha de um casal de classe média, globalizou-se acompanhada da narrativa de sofrimento dos pais. Em Inglaterra a classe média, o grupo que consome e ganha eleições, imaginou-se na mesma situação e chorou. A sociedade civil, igrejas, associações, partidos políticos, juntaram-se à causa, um fundo foi criado, camisolas foram vendidas. Os tablóides facturaram com a história, rementendo para a condição nacional, para o sofrimento de um casal inglês lá no sul, onde as praias são boas mas tudo resto é altamente discutível e pouco civilizado. Os jornais de referência, num período em que as notícias sobre os mortos no Iraque se tornaram repetitivas, pegaram na história, procurando contar esta tragédia de classe. Um rapto. Uma polícia ineficiente e a esperança de tudo ter um final feliz. A cereja em cima do bolo, esperança nacional, era a Scotland Yard resgatar a criança das mãos de perigosos pedófilos. Ponto final. Tudo coria assim, até que outras alternativas de explicação foram sendo colocadas. Ignomínia. A hipótese, apenas uma hipótese, de os pais estarem envolvidos na morte da pequena criança loura ruía meses de negócio e de simpatia política. Pior, a hipótese destruía a imagem intocável da classe média inglesa, repositório de todas as virtudes civilizacionais, educados, altos e bem alimentados, respeitáveis e patriotas. Ainda se se tratasse de uma família operária de Manchester, herdeira de eras de promiscuidade, alcoolismo, gravidezes adolescentes e violência doméstica, ainda se a coisa se relacionasse com um contexto étnico qualquer, com barbarismos africanos, orientais ou mesmo latinos, mas não, o casal é perfeito, uma encarnação da classe média inglesa, um símbolo e, portanto, à partida, inocente e inimputável. Independentemente do que se vier a passar, a análise ao discurso dos media britânico, desde a violência dos tablóides à eufemização politicamente correcta dos jornais de referência, não deixa de expressar, mais uma vez, uma arrogância civilizacional, travestida de virtude de classe, que vai demorando a passar.




Lord Jesus



Ao contrário do que sucede por cá


Com mais de dois milhões de trabalhadores do sexo na Índia, a prostituição está num limbo legal e considerada um tabu. Existe inclusivamente uma tribo, os Bedia, em que a prática de sexo por dinheiro é aceite como um trabalho da mulher

Depois é evidente que quando falamos de pessoal do terceiro mundo ficam sempre bem os termos tabu, tribo, ou a especificidade da condição feminina. Em Portugal, por exemplo, moderno país europeu, a prostituição não vive num limbo legal (não é crime mas não é reconhecida legalmente) nem é considerada um tabu. E o mais curioso é que o ou a imbecil(assina M.J.A.) que copiou esta notícia do El Mundo nem se deu ao trabalho de traduzir o termo Índios que em português, como todos sabem, é monhés. Índios só na América.
E assim, meninos e meninas, termina mais uma lição sobre as subtilezas do etnocentrismo. Só faltava dizerem que as putas indianas são muito mais espirituais do que as outras.



    António Vicente

Últimas entradas

Arquivo

Blogues

Sí­tios


ATOM 0.3