Vou para o arquivo histórico quase todas as manhãs descendo a Karl Marx, depois de passar entre umas ruas do bairro da Malhangalene. A Karl Marx é paralela à Lenine, mas tem a vantagem de ser mais arejada. Tem melhor luz. Rua de oficinas, está ligada a Lenine por várias vias secundárias, quase todas com nomes de heróis das independencias africanas, Agostinho Neto, Marien Ngouabi e alguns locais. O respeitinho é muito bonito. Não encontrei nenhum sub-texto ideológico nas ligações da Karl Marx a Lenine. As duas avenidas são bastante cosmopolitas e não deixam ficar mal os nomeados. O mesmo não se passa com todos os donos de ruas em Maputo. A avenida Mao-Tse-Tung fica do lado nobre da cidade, pejada de vivendas, com os seguranças na porta. A Friedrich Engels é quase um passeio público, em ambiente de turismo neo-colonial. A Kim Il Sung é insuportavelmente benzoca e mesmo a Salvador Allende padece de vastos sinais exteriores de riqueza. Espaço único da cidade, o lugar do cruzamento histórico entre a Mao-Tse-Tung e a Kim Il Sung, é caracterizado por uma dependencia do Standard Bank sul-africano, que com os bancos portugueses domina o mercado moçcambicano, uma loja da Marlboro e uma vivenda indecentemente burguesa.