Antes do novo Expresso, antes do Sol do Saraiva, depois de duas primeiras páginas consecutivas do Diário Notícias sobre o "Apito Dourado", depois da primeira sexta-feira sem Independente, e no dia em que criou um edição repleta de suplementos, o Público resolveu, para atrair a maralha, fazer uma manchete sobre o envolvimento do presidente do Benfica na escolha de árbitros. A notícia é absolutamente especulativa e o título tem pouco a ver com o conteúdo. Qual foi o critério editorial?
Os críticos cinematográficos dos jornais de referência lá andam a bater no Almodovar, que está sempre a fazer o mesmo filme, que é uma chatice, que é demais, que já não é como era, e que, e tal. Pois não. Volver, além do habitual bestiário almodovariano de relações incestuosas e outros atentados à normalidade familiar, faz um retrato raro sobre o quotidiano, sobre as pequenas coisas, sobre gestos, hábitos e relações, sobre objectos, pudins, relações de vizinhança e sobre um mundo rural que se tornou urbano sem no entanto ainda o ser. Claro que esse mergulho na realidade pode ser uma chatice para quem vive entre o Chiado e o Chiado.
No meio do noticiário da RTP, entre o anúncio glorioso do novo acordo interpartidário que visa reformar a justiça do burgo e a notícia que Portugal está a crescer imenso, lá avançou o Rodrigues dos Santos que os professores portugueses eram, segundo a OCDE, os terceiros mais bem pagos de um conjunto de 30 países europeus. Sem mais. Do nada. Nem um contextozito, nem umas palavras sobre a amostra, nada. Mas alguém acredita nisto? Uma coisa é combater as corporações, outra é ter tempo de antena no meio de um telejornal sobre um assunto em que é essencial ganhar o apoio da opinião pública. É por estas e por outras que o Cintra Torres deve ter razão.