HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




Maddie and the making of the english middle class


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O desaparecimento de uma loura criança inglesa de um empreendimento turístico algarvio tornou-se num furo mediático. A imagem da bonita criança, filha de um casal de classe média, globalizou-se acompanhada da narrativa de sofrimento dos pais. Em Inglaterra a classe média, o grupo que consome e ganha eleições, imaginou-se na mesma situação e chorou. A sociedade civil, igrejas, associações, partidos políticos, juntaram-se à causa, um fundo foi criado, camisolas foram vendidas. Os tablóides facturaram com a história, rementendo para a condição nacional, para o sofrimento de um casal inglês lá no sul, onde as praias são boas mas tudo resto é altamente discutível e pouco civilizado. Os jornais de referência, num período em que as notícias sobre os mortos no Iraque se tornaram repetitivas, pegaram na história, procurando contar esta tragédia de classe. Um rapto. Uma polícia ineficiente e a esperança de tudo ter um final feliz. A cereja em cima do bolo, esperança nacional, era a Scotland Yard resgatar a criança das mãos de perigosos pedófilos. Ponto final. Tudo coria assim, até que outras alternativas de explicação foram sendo colocadas. Ignomínia. A hipótese, apenas uma hipótese, de os pais estarem envolvidos na morte da pequena criança loura ruía meses de negócio e de simpatia política. Pior, a hipótese destruía a imagem intocável da classe média inglesa, repositório de todas as virtudes civilizacionais, educados, altos e bem alimentados, respeitáveis e patriotas. Ainda se se tratasse de uma família operária de Manchester, herdeira de eras de promiscuidade, alcoolismo, gravidezes adolescentes e violência doméstica, ainda se a coisa se relacionasse com um contexto étnico qualquer, com barbarismos africanos, orientais ou mesmo latinos, mas não, o casal é perfeito, uma encarnação da classe média inglesa, um símbolo e, portanto, à partida, inocente e inimputável. Independentemente do que se vier a passar, a análise ao discurso dos media britânico, desde a violência dos tablóides à eufemização politicamente correcta dos jornais de referência, não deixa de expressar, mais uma vez, uma arrogância civilizacional, travestida de virtude de classe, que vai demorando a passar.



    António Vicente

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