Fialho de Almeida, com algum mau fígado, chateava alguns concidadãos, nomeadamente os escritores portugueses estrangeirados, amantes de Paris e mais reconhecidos do que ele próprio. Não confudir, claro, a crítica ao estrangeirismo com a crítica ao estrangeiro.
"O estrangeirismo, ou monomania de adaptação do estrangeiro à vida nacional, enxertado sem critério nem precisão imediata, e até com manifesta inferioridade nos resultados, é uma das formas de pessimismo dos povos adormecidos por um longo regímen de vícios públicos e privados, e no resvale da autonomia cívica, que unicamente poderia dar-lhes força. É o primeiro acto dos que perderam a fé na individualidade própria, macaquear a dos outros, não sob os respeitos dum profundo plano de regeneração e vida nova, mas unicamentente para mudarem de aspecto, exteriormente, como se muda de fato. Hoje quase tudo viaja, ainda que mal, pois a viagem como complemento de educação em vez de ser entre nós um folhear metódico de civilizações em desenvolvimento, com estudo de observação paralela, e aplicações sistemáticas à nossa, reduz-se maioritariamente a um patuscada em Paris, com permanência nos cafés de mulheres, na debocheira jovial dos teatros, e corrida em fiacres aos monumentos e locais pitorescos que os guias citam. Em resumo, a feira das Amoreiras em mais longe, mais caro e mais solene." Os Gatos (algures entre 1889 e 1894)