Passados dez minutos sobre a expulsão de Zidane, um indivíduo perto de mim recebe um sms informando que circulava na net que Materazzi, Maseratti para os comentadores locais, tinha chamado filho-da-puta ao francês. Havia que encontrar uma razão. Aquela é, claro, relativamente insuficiente. Imaginemos o Jorge Costa. Se cada adversário que foi insultado da mesma forma pelo grande central português reagisse como Zidane, Jorge Costa estaria hoje reduzido a um singelo monte de areia. Temos que pensar melhor. Por exemplo: Zidane foi frontal e isso é louvável. Não andou ali com dramaturgias, com mergulhos à portuguesa, não fez queixinhas ao árbitro e esteve-se nas tintas para a grandeza da ocasião, para o politicamente correcto da FIFA, para a França, para a equipa, esteve-se nas tintas para tudo. Isso é romântico. Mas apesar de tudo o que se possa dizer a cabeçada foi bruta. Há cabeçadas estéticas, há outras habilidosas mas aquela é bruta todos os dias. Como dizia ontem o antigo jogador moçambicano Calton, que passou breve e incognitamente pelo Sporting, Zidane tem responsabilidades cósmicas e, utilizando a mesma expressão que serviu para imortalizar Garrincha, o francês é a alegria do povo, o que implica uma espécie de contrato com a humanidade. Isto é, Zidane está em dívida e a forma de pagar era jogar mais uma época para o pessoal se divertir um bocado mais.
De resto, esta Itália não desmereceu.