Os jogos de futebol têm os seus ritmos. O ritmo da estratégia dos treinadores, o ritmo resultante da relação entre as duas equipas durante o encontro. Embora o jogo esteja cada vez mais pensado, é por vezes difícil perceber o que se vai passar, a que velocidade as coisas vão acontecer. Alguns jogadores pouco comuns conseguem subverter o ritmo dos jogos. Por vezes conseguem mesmo ser eles a pautar o ritmo. Acontece isso, por exemplo, com Riquelme. O corpo de Riquelme quase nunca anda ao mesmo ritmo do jogo. Só pelo facto de o argenino ser um fora-de-série é que o modelo de jogo imposto pelo treinador o suporta. Porque à luz de certas convenções sobre o futebol moderno Riquelme é insuportável. A bola chega aos seu pés e ele está nitidamente noutro comprimento de onda, e só o está porque domina totalmente o seu corpo em relação ao espaço do campo. Algo de semelhante acontece com Zidane e com o Ronaldinho do Barcelona, mas muito menos com o Ronaldinho de Parreira. Cristiano Ronaldo, deixado livre pela táctica de Scolari, e mesmo pela de Ferguson, embora menos, também impõe o seu ritmo ao jogo, a sua individualidade. É mais discutível, porém, que o ritmo de Ronaldo esteja ao serviço de um ritmo colectivo. É certo que Ronaldo não é um maestro, mas mesmo na posição de extremo basta pensar na tremenda eficácia do génio de Figo, para perceber que Ronaldo ainda está longe, apesar do talento, de ser um enorme jogador. É neste sentido que interessa mais uma vez elogiar Zidane, porque o seu génio individual expressa-se por excelência no movimento colectivo.