Na habitual histeria nacional dos recordes, José Manuel Delgado faz-nos hoje o favor de debitar uns disparates no seu Editorial n'
A Bola. Disparates que derivam, certamente mais de ignorância do que de má fé, embora o habital elogio à Instituição esteja, como não podia deixar de ser, assegurado. O argumento é o seguinte: o Benfica é o maior. Um fenómeno como não existe outro em parte alguma do Mundo. A prova: com uma base potencial de recrutamento de adeptos muito menor do que alguns dos grandes clubes europeus, é o clube com mais sócios no Mundo.
Importa, neste sentido, clarificar alguns pontos. O argumento falha precisamente na questão das bases de recrutamento. Ao contrário do que sucede na maior parte dos países europeus, em Portugal existem dois clubes que têm uma dimensão nacional, e um outro que para lá caminha, embora não se consiga desmarcar das suas raízes regionais. Estar a extrapolar esta especificidade portuguesa para a Alemanha, a Espanha ou a Inglaterra não faz sentido. Sem querer estar a incomodar o leitor com demasiados pormenores, o que podemos dizer de modo a sintetizar o argumento é que fruto de processos de desenvolvimento e urbanização mais equilibrados, nestes países as pessoas tendem a ser adeptas do clube da sua cidade. Não existem clubes nacionais. O Manchester é um projecto nesse sentido, mas não entra na maior parte das principais cidades inglesas. O Bayern recruta na Baviera, mas concorre mais pelo menos mais dez clubes de dimensão similar no plano nacional. Espanha será o caso mais parecido com o português. Mesmo assim o Real Madrid não recruta no País Basco, na Catalunha, na Galiza ou na Andaluzia com a mesma facilidade que o Benfica recruta em Trás-os- Montes ou no Algarve.
Onde queremos chegar com esta conversa toda é que o Benfica é o clube com mais sócios do Mundo porque de facto tem uma das maiores bases de recrutamento de adeptos no Mundo. Não é assim particularmente extraordinário o facto de ter chegado à marca dos 160 mil sócios. Estranho seria não os ter. Extraordinário é sim, o empolamento que é dado à questão e a incapacidade de a enquadrar de um modo talvez um pouco menos histérico.