Num restaurante a 50 metros do largo Camões, numa altura em que o Chiado já há algum tempo voltou a ser o centro de Lisboa, um casal idoso, bem composto, termina o seu almoço. Pedem ao empregado, a quem tratam pelo nome, dois cafés e uma arguardente bem servida que acabam por misturar no café. Entretanto, chegam ao restaurante várias pessoas que cumprimentam familiarmente o casal. Aqueles dois velhos eram da zona, clientes habituais do restaurante. O café reforçado deu origem a longa conversa entre os dois. De que falavam os dois lisboetas, habitantes do centro da capital? Das origens, da terra, das várias denominações do milho paínço, da forma variada dos arados, da mistela que a vaca comia para dar mais leite e da estratégia mais eficaz para matar um cabrito. Como eram de aldeias diferentes, os assuntos eram tratados de modo ligeiramente distinto, o que prova não ser o mundo rural tão monótono como isso. A modernidade portuguesa passava por ali. Já não é rural mas está longe de ser urbano, cidade de aldeias, atravessada, aqui e ali, pela revolução francesa e o iluminismo.