HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




O barómetro


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O concurso sobre os grandes portugueses tornou-se uma inevitabilidade. A prova disto é que muita boa gente tem passado parte substancial do seu tempo a discutir quão idiota é o concurso. Sempre é melhor, apesar de tudo, do que andar de fita métrica a perceber em que momento cósmico começa a vida do feto. A desvalorização do ranking da RTP não nos leva longe. Aceitando-se que o programa já é um facto político, o próximo passo é avaliar o seu possível impacto. Mesmo os mais cétpicos não resistem a opiniar. É triste, digo eu, que o Obikwelu não possa ganhar. Num espectro de maior seriedade faltam as preferências populares, afastadas por uma imbecil ética da responsabilidade. O St.º António tinha piada, porque a Igreja não gosta de santos populares. A Amália era obrigatória; e, claro, não se percebe a ausência do Eusébio, sem dúvida a única pessoa que merecia ganhar. Ele e o Chalana, obviamente. E talvez o Néné e o Diamantino, esquecia-me do Diamantino. Posto isto, temos os dez. A presença do pessoal dos Descobrimentos prova a vitória da escola nacionalista, da Expo 98 e de outros comemorativismos. O Camões, que ninguém lê, é o homem do 10 de Junho, do antigo dia da raça. É pelo nacionalismo que ele lá está. O Marquês, um déspota relativamente esclarecido, tem uma estátua com um leão, o que o torna não ilegível. Uma vitória do D. Afonso Henriques podia ter alguma piada: o primeiro português é o melhor português, a partir daí foi sempre a cair. O Pessoa e o Aristides representam o voto choninhas, politicamente correcto, da classe média descomprometida ou pouco comprometida. Um tédio. Os dois não sobreviveriam, aliás como nenhum dos outros, à prova de valor democrático a que tem sido submetidos Cunhal e Salazar. Este é o duelo engraçado da coisa, aquele que representa a luta de visões globais sobre o mundo actual, ou pelo menos recente. A falta de outra visões importantes sobre o Portugal contemporâneo, como a de Soares, resulta da lógica do programa. O programa pode ser estúpido, que o é, mas as leituras políticas vão ser inevitáveis. A posição da opinião publicada e as suas justificações garantem um momento sociológico único para avaliar do estado dos posicionamentos sociais e ideológicos que representam a opinião dominante em Portugal.



    António Vicente

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