HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




Os bons sentimentos


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Os argumentos da esquerda para defender o estado social, isto é, o direito à habitação, os sistemas universais de saúde e educação ou a segurança social, incluindo aqui o subsidío de desemprego, vão sempre falhar em falar aos não convertidos porque são essencialmente baseados nas mesmas estruturas ideológicas que a direita utiliza para atacar esses mesmos direitos. Estas estão sediadas numa única premissa: a meritocracia, e o seu amigo intímo, o individualismo; "se eu trabalhei para ter uma casa porque é que a hão-de dar de borla a alguém que vive numa barraca". É evidente que na maior parte dos casos esta ideologia do mérito vem associada a um conjunto de preconceitos com os quais é mais dificíl dialogar, mas cuja depuração, paradoxalmente, pode permitir chegar a camadas sociais que habitualmente não são sensíveis aos argumentos da esquerda. E não são sensíveis porque os argumento da esquerda partem demasiadas vezes de posições morais e categorias psicológicas. A oposição entre o egoísmo da direita e o altruísmo da esquerda será o exemplo clássico. Se, em vez de insistir em chavões como a solidariedade e o altruísmo, a esquerda se desse ao trabalho de traduzir para uma linguagem acessível aos não especialistas e não convertidos os argumentos de autores relativamente insuspeitos como Braudel e Wallerstein, que vêm no capitalismo um sistema de produção de desigualdades, o proprio terreno onde estas lutas se desonvolvem deixaria de estar tão inclinado. Não é difícil fazer ver empiricamente a um tipo de classe média com um curso superior e que vota no PSD e perfilha de uma ideologia social-democrata a inevitabilidade das desigualdades e o modo como funciona a reprodução social. Trata-se simplesmente de deslocar as discussões do campo da vontade subjectiva e dos sentimentos morais para a esfera das condições históricas e económicas das sociedades contemporâneas. Porque é que alguém vai para a uma barraca? Como é que ganha a vida? (Porque é que vende droga? Toda a gente que vive nas barracas vende droga?) Quanto é que custa alugar uma casa? Com dois ordenados minímos que banco é que lhe vai conceder um empréstimo? Como é que o tipo que quer o empréstimo, mas que só tem amigos que vivem em barracas e trabalham nas obras vai arranjar um fiador? Quanto é que valem os terrenos de onde a Câmara o vai desalojar? Não seria possível, e desejável, destinar uma parte desse valor à construção de habitação social? Se não, é legitímo expulsar a família e deixá-la na rua? Isso não vai aumentar as taxas de criminalidade? Não vais à mesma gastar dinheiro, só que em prisões e com bófias?



    António Vicente

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