Partilhar um filme numa sala de cinema com espectadores. Eis um problema. Um picador de gelo afiado nas bochechas dos rabos é modesto para os tipos que gostam de comentar o filme à medida que a coisa vai acontecendo, como se fosse um jogo de futebol; dois picadores de gelo afiados nas bochechas do rabo para os tipos que procuram antecipar o que vai acontecer a seguir. É quase tão mau como ver um jogo de futebol na televisão de um café ao pé de um gajo que está a ouvir a rádio e a informar o povo do que vai acontecer três segundos depois. Três picadores de gelo nas bochechas dos rabos e uma bigorna bicuda para os casais de namorados que tapam metade do ecrã com línguas, narizes, alguns deles pontiagudos, cabelos, trancinhas e festinhas na cabeça. Tudo coisas fixes, que fazem sentido em milhões de sítios do mundo, mas não ali. E como tratar o tipo do lado que ri sempre nas partes onde eu acho, com tudo o que isso significa, que ele não deve rir. E o tipo do outro lado que gosta de ver o filme de pernas esticadas para os lados. Por que razão não põe os pés dentro da boca, é original e não chateia ninguém. Mas tudo isto parece óptimo, quando depois de chegar a casa um cidadão se apercebe que estão a transmitir mais um debate sobre o aborto. Perguntei pelo resultado. Disseram-se que o "sim" estava a ganhar prá ai uns 3 a 1 ou a mesmo 4 a 1, mas que o "não" ainda não tinha posto todos os jogadores em campo. 300 bigornas escaldantes nas bochechas dos rabos desses gajos que andam pela televisão a defender o "não".