HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




Dogville ou o carro à frente dos bois


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Um dos problemas do futebol globalizado e mediatizado é a forma de lidar com jogos inúteis do ponto de vista comercial. Se tempos houve em que seja por interesse estético, político ou até mesmo económico, os jogos entre selecções eram não apenas desejáveis como necessários aos clubes e aos jogadores, com a multiplicação das transmissões televisivas, dos jogos europeus e a abertura do mercado de transferências de jogadores eles tornam-se redundantes. O recente empate da selecção inglesa em Israel voltou a levantar a polémica. Os jogadores foram acusados, e perdoem-me o francês, de se estarem bem a cagar para a selecção. Evitar lesões, dosear o esforço, etc. para se poderem concentrar prioritariamente nos objectivos dos seus clubes (quem lhes paga). A este debate que é não apenas inglês mas mundial (vejam-se os casos da selecção brasileira e argentina ou de forma mais aguda das selecções africanas, que não apresentam o mesmo poder de negociação das selecções mais poderosas face aos seus internacionais) e que se relaciona sobretudo com a permanência de alguns laivos da antiga mentalidade amadora num futebol comercializado responde um director de jornal português com tiradas identitárias. Apesar da constante retórica lusófona e colonial do jornal A Bola, podemos recordar, a título de exemplo, reportagens recentes sobre o futebol em Goa, o acompanhamento da visita do Benfica a Moçambique ou diversos artigos dos comentadores do jornal a propósito de uma forma portuguesa de estar no mundo e da lingua enquanto elemento definidor de uma portugalidade supostamente aberta (na qual o próprio jornal A Bola desempenharia um papel essencial), a verdade é que quando chega o momento de definir quem fica dentro e quem sai fora do barco da nacionalidade um certo espiríto exclusivista construído com base numa visão que privilegia a pertença sanguínea a uma Nação em detrimento de uma pertença jurídica a um Estado vem imediatamente ao de cima. Vítor Serpa, na segunda-feira, e partindo da recente operação a que Deco foi sujeito veio a terreno defender a ideia de que os "estrangeiros" não devem ser chamados a representar a selecção nacional. Devemos portanto, e sem que o jornal que dirige apresente quaisquer provas do facto, depreender que a operação a que Deco foi sujeito não seria imediatamente necessária e que o jogador foi operado por sua vontade, resultando daqui que prefere o clube à selecção. Em segundo lugar que se o jogador fosse "mesmo" português ele se recusaria a ser operado e viria a representar a selecção. Em terceiro lugar que qualquer português a sério preferiria representar a sua selecção nem que para isso tivesse que prejudicar a sua saúde para além dos seus próprios interesses mesquinhos, bem como os do seu clube. Os portugueses à séria andam nisto pela pátria. É isto o culturalismo, visível não somente na análise de Serpa ao "caso" Deco mas em todas as lógicas que preferem colocar, e na maior parte das vezes sem qualquer sustentação empiríca, as questões da identidade e da cultura à frente dos factores estruturais que guiam a acção humana.



    António Vicente

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