HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




Agentes de Pasteur? ou Agentes da Reacção?


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Num país que praticamente não existe, onde existem três linguas oficiais, que para lá dos chocolates e dos chinos e vive da entrada de capital estrangeiro e que tem uma percentagem de trabalhadores estrangeiros de 26%, num universo de cerca de quatro milhões de trabalhadores, para sete milhões de habitantes, um partido de extrema direita ganha as eleições, tendo no centro da campanha precisamente o ataque aos imigrantes. A taxa de desemprego rondava em 2002 (foram os dados que estavam mais à mão) os 3%, tendo atingido um máximo histórico de 5,5% durante a década de 90. Os trabalhadores estrangeiros, para além daqueles que trabalham nos organismos internacionais, dedicam-se sobretudo a limpar e a cuidar da Suiça e a prestar serviços desqualificados aos Suiços, e possivelmente também uns aos outros. Nada de especialmente novo, mas pelo menos algo de estatisticamente saudável. E no entanto estes manos querem correr com uma parte significativa das pessoas que lá vivem e sem as quais o país não pode funcionar. O motivo é o habitual. Insegurança e criminalidade. Estavam presas no final de 2006 79 em cada 100.00 pessoas, num total de 5,888 presidiários, bem longe dos 740 em 100.00 nos Estados Unidos ou dos 98 na Alemanha. Apesar do número de condenações ter vindo a aumentar desde 2000 é natural que isso se deva mais às condições políticas do que a aumentos significativos no número de crimes. Apesar de os estrangeiros deterem uma taxa de criminalidade mais alta isso é explicado pela sua composição demográfica e pelas suas estruturas familiares. Isto é, nada que uma política de reagrupamento familar séria não resolva (não sei se estão a ver a relação desta merda com a história do ADN e da escumalha estrangeira e do endurecimento das posições das forças corecivas do Estado em França?). Numa onda didáctica sugerimos ao leitor dois livros para perceber estas cenas. Bandits de Eric Hobsbawn e A criminalidade de estrangeiros em Portugal. Numa linha mais macro e cultural, poderíamos de facto falar na sociedade de risco, na insegurança ontológica e no modo como os media geram sentimentos de insegurança e essas cenas todas. Num estilo mais antropológico poderíamos até dizer que os estrangeiros enquanto outsiders são os bodes expiatórios ideais para os problemas lá dos sócios. Ou será que em alternativa e apesar da coisa poder ser culturalmente compreendida e historicamente explicada não se poderá só tratar de um caso extremo de ganância dos já instalados e na criação de mecanismos preventivos para a manutenção da ordem? Impedir estrangeiros de aceder aos direitos sociais, dificultar a entrada e a legalização de trabalhadores, impor regras mais largas para a expulsão de estrangeiros são óptimos meios de, sei lá, manter para aí 26% da mão de obra, e em especial a que de forma quiça demodé poderíamos chamar de classe trabalhadora na ordem. Pelo menos quanto raça e classe acasalam, não?



    António Vicente

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