HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




A estética


As comemorações dos 25 anos do lançamento do Memorial do Convento foram uma oportunidade desperdiçada para discutir um dos temas preferidos do país: as obras públicas. Na imprensa de "referência" a abordagem seguiu dois caminhos. O Público optou por fazer uma reportagem sobre o convento propriamente dito, num texto que cruza economia, turismo e estética. A autora do artigo, cujo nome não me recordo, porque este é um blog sério e ponderado que não comenta assuntos a quente, relevou o impacto do livro no turismo da vila, nas excursões escolares que dão vida ao convento e acaba a retratar a glória de algumas das salas de que Saramago fala no livro. O Diário de Notícias, seguindo também um ponto de vista económico optou antes por sublinhar o milhão de exemplares vendidos em Portugal. Nada mau para um país de analfabetos obcecado com bola e que só lê Margarida Rebelo Pinto e quejandos. O Eduardo Pitta, Da Literatura (não linkamos porque já o fizemos uma vez e o senhor não deu troco), está como nós e também não gostou da abordagem do DN. O senhor acha que uma obra daquele calibre (palavras nossas) não tem que ser avaliada pelas vendas. Não concretizou, mas imaginamos que para Pitta a coisa só possa ser avalida pela qualidade literária. Nem sequer do ponto de vista de uma sociologia da leitura ou, para não sermos tão chatos, dos estudos sobre recepção a coisa interessa. A ninguém lembrou o facto de o Memorial do Convento ser um livro sobre obras públicas. Sobre o Centro Cultural de Belém e sobre a Expo-98. Sobre o Euro-2004 e sobre a Casa da Música. Sobre as curiosas simetrias entre o Sócrates e Cavaco e as lógicas de funcionamento do bloco central. Sobre o que se fez com os fundos europeus desde 1986. É claro que se quisermos ser uma beca mais chatos e sairmos dos terrenos do TGV e do novo Aeroporto de Lisboa é também um livro sobre o poder, sobre obscurantismo e o papel da igreja em Portugal e sobre as relações de classe. Sobre governos preocupados em inscrever o seu nome na história através da grandes obras de regime e sobre o valor do trabalho. Sobre investimento público não reprodutivo e o desprezo pela vida humana. Mas isto são merdas que não interessam a ninguém quando comparadas com a glória do Convento e a qualidade literária da obra. Foi bonito de se ver.


Lapsos freudianos dactilográficos


25 de Baril de 1974


E ao mesmo tempo grandes resultados, não é?


Num contexto em que o jornalismo desportivo não existe e se limita a fellaciar os poderes do futebol português Freitas Lobo não papa grupos.



Via, Jogo Directo


Panascas homofóbicos


Como se já não bastasse a Tagus produzir a cerveja mais merdosa do mercado, agora resolveram explorar o nicho de mercado de pulhas preconceituosos que para aí pupula, com uma extraordinária campanha intitulada "Orgulho Hetero" com a qual os estimados leitores se poderão deparar numa estação de metro perto de si. Visitnado o site, a Tagus informa-nos que o "www.orgulhohetero.com vai ser o primeiro espaço dedicado à causa heterosexual em Portugal. Vais poder conhecer pessoas do sexo oposto, trocar experiências e divertir-te.". A mim parece-me que é coisa de gente que gosta de fellacios e sodomia com pessoal do mesmo género (não que isso tenha qualquer tipo de problema!) mas que ainda não sabe. Aliás a ignorância é outro dos traços marcantes da campanha. Os manos deviam saber que a família, o Estado e mais uma série de instituições já zelam pela "causa heterosexual". Como é evidente a coisa não podia acabar sem um apelo às Tunas para criarem um hino para a marca.





Descobertas tardias




O título desta peça bem podia ser o nome de um filme rodado em Atenas com um actor bem português, natural de Coruche e que está a colocar em delírio a extensa massa associativa do Panathinaikos, sedenta de títulos e de alegrias.

Ou ainda a frase do ano, mas não pensem que sou do tipo vingativo:
O Sporting de Paulo Bento é igual ao de José Peseiro, que jogava como nunca e perdia como sempre. Tirando jogar como nunca, claro.
Joel Neto, no JN

Dito isto, é evidente que não estamos a pedir a cabeça de Paulo Bento. Só do bando de pataqueiros que correu com o homem de Coruche...


Wagner e o Holocausto


A malta das bivariadas volta a atacar. Aliás não pára de atacar à décadas. Depois do ranking das escolas voltamos agora aos pânicos morais associados a diversas formas subculturais. Quando falamos de pretos geralmente culpa-se o hip-hop. Quando é de brancos que se trata o bode expiatório é geralmente o metal. Vem isto a propósito do recente massacre numa escola finlandesa que motivou mais uma vez uma série de debates sobre a influência das bandas de metal, como sucedeu igualmente no caso de Columbine, no despoletar de comportamentos tidos como anti-sociais. A ideia é simples. Adolescentes impressionáveis consomem produtos culturais que os levam a fazer coisas más. O mesmo argumento aliás que é utilizado para explicar o populismo, a influência mediáticas nos processos políticos e uma série de problemas sociais: consumo de drogas, gravidez adolescente, Avelino Ferreira Torres etc, etc, etc. O mais curioso é que este tipo de relação directa entre consumos culturais e comporamento anti-social, para além de todas as falácias e imbecilidades que se podem apontar a este tipo de sistemas de pensamento, parte de dois pressupostos bastante simples de identificar. Por um lado são apenas os bens culturais associados de forma mais ou mesmo próximas á cultura popular os responsáveis por desvios comportamentais. Por outro lado essa influência apenas se exerce sobre grupos os grupos subordinados: donas de casa que liam romances eróticos nos anos cinquenta, pretos do gueto que ouvem hip-hop, jovens de classe operária que frequentam concertos de metal, adeptos de futebol, etc, etc, etc. Ninguém quer saber que som é que o Gerge Bush curte ou mas malhas que o Pinochet bombava. Isto para não falar no senhor do bigodinho.



    António Vicente

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