HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




Miramar


Chama-se Miramar a televisao da IURD que em canal aberto transmite para Mocambique. A IURD aqui pelos tropicos. Em Portugal a mesma igreja tinha uma radio do mesmo nome. O canal mistura a programacao brasileira com programas especialmente feitos para Mocambique. Os programas mocambicanos tem um lado pedagogico que nao e despiciendo, mas os brasileiros sao insuportaveis. Chunga mais chunga e dificil. Ate as telenovelas sao mal feitas. Personagens maniqueistas, actores de segunda, enredo banal, louras platinadas que so nos habituaramos a ver em telenovelas venezuelanas. Trabalho de campo a quanto obrigas.


empreendorismo


Apesar da topominia socialista, Mocambique ja ha alguns anos que meteu o dito na gaveta. Vive agora num paradigma liberalizante. O formula do desenvolvimento chama-se empreendorismo. Salimo Abdula e o presidente da Confederacao das Associacoes Economicas, protegido do presidente Armando Guebuza. As suas palavras reflectem a rapidez da circulacao das ideias. O essencial para a economia de Mocambique e a nova lei do trabalho, que tem que ser pensada num quadro de competicao feroz com os paises vizinhos, nomeadamente a Africa do Sul: "O empregado tem de ter a consciencia que la fora estao 200 cidados a espera do lugar e que se este nao der o seu maximo e garantir a eficiencia da empresa podera ser subsituido por A ou C ... E a competitividade, quem nao aguenta fecha."


cowparade


Apesar de as vacas só serem libertadas pela cidade lá para Maio, ontem já tivemos direito à ante estreia.


RDA


Chuva intensa, frio e vento. Quero o meu dinheiro de volta. Perda de passaporte, cartao TMN e pen USB na saida de Supermercado burgues depois de comprar um quilo de muesli. Foram-se os telefones (agradece-se informacao por e-mail) e democratizaram-se (nao se perderam) fichas de leitura, teses, investigacoes, poemas completos e outra tralha. Percentagem importante das horas da minha vida. Esquadra para comunicar o evento infeliz. Recebidos simpaticamente. Documento que informa da baixa do passaporte. Minuta especial copiada lentamente com uma velha maquina da escrever made in RDA. Uma hora. Seguiu-se a segunda parte do Benfica, sem antes ter deixado de correr meia Maputo com o meu anfitriao por entre cafes, moradias da comunidade hindu e bombas de gasolina a pe, ja que a carrinha em que nos transportavamos ficou sem combustivel. Isto para dizer que fomos mais uma vez roubados. Dois penalties. Uma vergonha.


A estagiar


A cidade prepara-se para o Benfica Barcelona. Envergar as camisolas dos clubes portugueses assume-se como uma forma de estatuto. A cidade tende para o vermelho.



Sócrates anunciou a caixa postal electrónica "sem custos e para todos". Agora só faltam os computadores.


Valdemir Lenine


A toponimia maputense merece um olhar atento. Vivo numa transversal da avenida que corta a cidade a meio: a Vladimir Ilitch Lenine. Depois de aturarem os nomes com que o colonizador baptizou as ruas, os maputenses, ex-lourencomarquinos, foram obrigados a trocar os navegadores, administradores e outros exploradores portugueses pela galeria de herois socialistas. Claro que a toponimia, tal como o portugues em geral, foi nativizada, transformada pela rua. Deste modo, o camarada Vladimir Lenine tende a ser chamado por Valdemir Lenine, porventura por influencia das milhentas telenovelas brasileiras que invadiram a televisao do pais.


Lusofonia


Os teclados dos computadores nos cybercafes, hoteis, etc sao todos em ingles.


Botafogo




Famílias


Uns produzem Serranos, outros Sopranos


...aos pavilhões de Lisboa


A assembleia geral do Sporting realizada na semana passada no pavilhão Atlântico oferece-nos mais um exemplo da influência que o enquadramento mediático tem na legitimação da "ordem", e apresenta-se como um estudo de caso exemplar sobre a produção das "vagas mediáticas".
O projecto Roquette passava essencialmente por dois eixos: subtrair o clube "ás bolas que batem na barra", por via de uma gestão rigorosa e assegurar um conjunto de receitas extra-desportivas. O projecto falhou na íntegra. O orçamento da discórdia contemplava receitas da Liga dos Campeões que, como todos sabemos, nunca chegaram a entrar, e o tecto para a aquisição de novos jogares foi largamente ultrapassado. Gestão rigorosa portanto. Daí os 15 milhões em défice. As superficies comerciais que deveriam proporcionar as receitas dão prejuízo, embora exista a possibilidade de no medio prazo virem a dar lucros, daí a necessidade premente de alienar o Alvaláxia. O bingo passou a uma situação deficitária, a culpa é do Euromilhões. A argumentação para tudo isto revelou-se frágil. Soares Franco, que fez parte das direcções do clube nos últimos dez anos, fez como se não fosse nada com ele. Chegou ontem e tem um projecto inovador. O falhanço do anterior projecto deveu-se a Bin Laden e à explosão da bolha bolsista ligada às novas tecnologias (não é piada).
Mais ainda, a assembleia geral permitiu-nos finalmente compreender os interesses objectivos que motivaram o projecto: a apropriação de um conjunto de terrenos do Sporting com um brutal valor de mercado. Terrenos que valeriam 190 contos o m2 foram vendidos por cem, a empresas que têm no seu quadro dirigentes do sporting. O saque está feito. Soares Franco quando interrogado sobre se estava na Assembleia enquanto comprador, na medida em que gere a OPCA, empresa interessada na compra do edifício Visconde, ou vendedor mais uma vez respondeu com o número da virgem ofendida. Nada disto encontrou eco nos meios de comunicação social.
Mais curioso ainda é o facto de no dia seguinte à entrevista de Peseiro, que acusava os jornais de serem dominados pela agenda dos clubes, termos tido a possibilidade de observar o início da contra vaga mediática. Apenas a "situação" teria doravante o direito à palavra. Os jornalistas apresentavam a "alienação" como inevitável, a oposição não apresentou propostas alternativas. A este propósito nem vale a pena citar jornais desportivos, mas a inenarrável prestação de Paulo Garcia no programa de opinião dos espectadores da SIC Notícias às 5 tarde do dia da Assembleia será suficiente para revelar a peça.
Claro que o carácter chantajoso da proposta não foi mencionado. Nem o trajecto de Soares Franco e seus compadres nos últimos dez anos. A gestão Roquette não foi revisitada, nem confrontdas as posições actuais com as de então. O facto de Soares Franco ter falado durante uma hora e meia na Assembleia contra 32 minutos do total dos sócios passou ao de leve. O facto de quatro em quatro intervenções dos sócios surgir uma proposta na mesa para proceder de imediato à votação, cortanto por essa via a palavra a dois dos já assumidos candidatos também não foi noticiada.
Assim a proposta de "alienação" que encontrava brutal resistência nos sócios chumbou por míseros 2%.
A vaga continua. Soares Franco é agora o avatar Cavaquista no espaço leonino. O homem providencial, a Razão, que nos vai salvar das hordas de fanáticos guiados pelo seu sentimento mas que não percebem nada de gestão.


Das ruas de Paris...


A turbolência que se nos tem apresentado nos útimos meses vinda de França merece alguns comentários. Ela ataca igualmente centro e periferia, trabalhadores e estudantes, intelectuais e a xungaria, indígenas e imigrantes. Não deixa, no entanto, de ser profundamente revelador o tratamento dúplice que é concedido aos diversos grupos. Toda a polémica com o CPE só rebentou no momento em que os estudantes também se compreenderam enquanto destinatários da medida, com solidariedade imediata dos sindicatos e da própria imprensa. A violência tem aqui uma legitimidade, é racionalmente enquadrada. É um mecanismo de resistência a uma lei potencialmente inconstitucional e, mais do isso, representativa do liberalismo mais selvagem. Um ataque aos direitos adquiridos. Recordemos que o CPE era parte do pacote de medidas que iriam "facilitar" a inserção laboral dos jovens dos subúrbios. Enquanto foram só estes os destinatários da medida ninguém se estrilhou. Nem uma palavra dos estudantes e muito menos dos sindicatos. E quando os subúrbios se estrilharam porque dois jovens terão morrido electrocutados devido a assédio policial, um cenário que sem grande esforço, ou pelo menos com algum auxílio do cinema, poderemos imaginar repetido milhares de vezes por dia em milhares de subúrbios, os direitos constitucionais não foram mencionados. A revolta foi então sintoma de mal-estar, deficiências de socialização e problemas de integração, protestos irracionais e por aí fora. O CPE um mecanismo de potencial inserção profissional...


a mandar a pausa na área


Be cool, honeybuney.


hotel mocambicano


Ainda cheira a Lourenco Marques. Teclado ingles. Turistas portugueses, sobretudo madeirenses vindo da Africa do Sul. Pagamento em dolares. RTP Africa. E nao se situa propriamente na zona 'branca' da cidade. Uma fronteira a explorar.



    António Vicente

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