Primeiro o elogio. Os ingleses fazem cinema, teatro e televisão sobre temas contemporâneos em quantidade abundante. As obras participam da discussão, alimentam-na. Em Portugal, claro, seria menos previsível um filme sobre a subida de Santana Lopes ao poder, ou um biopic sobre a Carolina Salgado. Depois o resto. Em a Rainha, Frears prossegue com mestria um hábito muito inglês, o de transformar uma crítica violenta à sociedade indígena numa ode nacionalista. O filme é interessante e insuportável ao mesmo tempo. Frears consegue derrubar a monarquia e reabilitá-la ao mesmo tempo, criticar a tradição bafienta, mas relembrar a dignidade tipicamente britânica. Irritável mesmo é a bacoca representação de Tony Blair como o bom modernizador, embora rodeado de víboras, que salva a Monarquia durante a crise resultante da morte de Diana. O primeiro ministro controla as massas e impede o pior. As massas não reivindicam o fim das guerras, nem melhores salários, nem a manutenção da segurança social. O povo inglês exige apenas uma monarquia de rosto humano, qualidade encarnada em Diana. No final do filme, o elogio da nova Inglaterra de Blair e Isabel II, resultado de um processo político em que a novidade é integrada na tradição. O contrário da revolução francesa. Estamos longe do tempo em que John Lydon berrava o seu God Save the Queen and the fascist regime.