HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




Aligun






As minhas dúvidas sobre a existência da pós-modernidade esbatem-se cada vez que vejo o novo anúncio do Millenium BCP. A Opus Dei a vender casas à pala de uma preta que canta sobre o good feeling que fumar uns picaretes (kaya na canção, para os menos versados nestas coisas) lhe provoca.


Fluxo de dois tempos


O público da cultura popular e, por conseguinte, o eleitorado sempre mereceram as maiores reservas por parte das elites. Apesar de ser dominante nos mais diversos sectores intelectuais e académicos a ideia de um público acrítico e permeável ao texto, e logo infantil e incapaz de raciocinar, no campo político essa postura revelou-se um pouco menos densa. De um modo geral quando as escolhas feitas pelos eleitores não agradavam a um dos contendores eram, e são, atribuídas à falta de informação e à desinformação. Isto é, à propaganda. Vamos cair no mesmo com uma nuance. O público não é tão idiota assim que não conseguisse reconhecer uma verdade se lha espetassem na tromba. Viviam todos felizes, até que um dia uns senhores unsuspeitos de quaisquer simpatias esquerdistas perceberam que a opinião é formada por camadas. Isto é, primeiro um tipo lê o jornal e depois ao contrário do que gostariam de acreditar os liberais, o tipo não fica fechado em casa a pensar no farmacêutico que vai assassinar a seguir, não O tipo provavelmente tem consciência das suas limitações e se calhar até tem alguns amigos e vai discutir com eles as coisas que leu no jornal e viu nas notícias. É o chamado two step flow. Geralmente o tipo escolhido para debater determinado tema é um tipo que terá à partida alguns conhecimentos sobre o assunto, embora também possa ser o tipo mais pausado lá da rua. Por exemplo. Se eu quiser debater ou esclarecer alguma dúvida que tenha em relação à astro-física ou futebol e tiver como amigos o Einstein e o Mourinho, eu, mas se calhar sou só eu, não vou debater futebol com o Einstein, a não ser que ele também goste de bola. Topam? Por outro lado quando mais específicos e especializados se tornam os temas maior é a necessidade destes mediadores. Por outro lado quanto maiores em número são as fontes de informação mais necessário se tornam estes mediadiros não só para indicarem as leituras mais apropriadas como até para ajudarem na sua descodificação, até porque o que a economia confirma a sociologia, por exemplo, pode desmentir. São as contradições entre os sistemas periciais. Isto acontece não só com os labregos suburbanos mas também com as pessoas muito inteligentes e eruditas que vivem em Lisboa e escrevem em blogues. Aliás é para isso que em grande medida servem os blogues. Isto tudo para dizer que também é para isso que servem os editoriais dos jornais e os comentadores e colunistas. Aliás, será por causa disso mesmo que é cada vez mais importante o espaço de opinião nos jornais e não apenas para as pessoas eruditas e sofisticadas que lêem o Público mas também para os broncos que lêem o CM e o 24 horas. É também por isso que com uma direita e liberal e conservadora e uma esquerda instalada a monopolizarem os jornais e a televisão o país cheira a mofo e a Calvin Klein. É por isso que ontem em editorial a Helena Garrido pega na notícia da péssima qualidade do sector privado e dos gestores em Portugal em Editorial e no Público nada. Como aposto o que quiserem que apesar do fascínio que os rankings internacionais de tudo e mais alguma coisa exercem sobre os jornais e os jornalistas este vai ser olvidado deveras de fininho, assim como quem não quer a coisa. Até porque se a interpretação mais correcta da notícia fosse a do Público não tenho grandes dúvidas de que seria chamada à primeira página.



Depois da MTV, agora aqui no Bordel... Nigga Poison


Um bom tom de pele


As breves declarações que Bernardino Soares e João Semedo concederam hoje ao Jornal da Tarde a propósito da não presença do PGR no parlamento foram mais do que suficientes para topar as diferenças entre os dois partidos que representam. Se um surdo, ou uma pessoa com dificuldadades auditivas estivesse a ver o noticiário poderia perfeitamente perceber como cada um deles se posiciona no mundo. O tom de pele, o modo de falar, a indumentária e a postura corporal denunciam-nos inequivocamente. Um Bernardino Soares meio pálido, combativo, com ar assustado de quem enfrenta um combate quotidiano, suado e a falar rápido num corredor obscuro do parlamento, com a paranóia típica de quem não quer, e se calhar não sabe, jogar aquele jogo. João Semedo num dos halls mais iluminados do parlamento, a falar de modo pausado e confiante, com o à vontade de quem está a jogar em casa e o desprendimento de quem sabe que fica bem na televisão.


Alerta Químico


Anda por aí uma nova rádio, a Química, 105.4. A programação parece francamente decente. À noite abundam os programas de autor e a diversidade musical parece estar garantida. Ontem, entre a meia e as duas, duas horas de jazz. Hoje, depois de duas horas de um programa cujo nome não topei e que andou a passar techno minimal deveras razoável, está neste preciso momento a dar outro programa de jazz. O apresentador é idiota mas a música não é má. À quarta aperentemente há grime e two step e à quinta punk rock. Para desenjoar da Radar e da Oxigénio, que a para além de passarem alguma música aceitável se tornaram nas agências publicitárias do Montez e da Música no Coração.

























Não nos vamos alongar filosofica e sociologicamente sobre o assunto, que não estamos para grandes explicações. Porém, em pleno debate sobre relativismo cultural e choque de civilizações, de arregimentadas argumentações sobre a introdução de cotas para combater desigualdades sociais, não deixa de ser surpreendente o desprezo a que foi votada, em quase todo o lado, a questão da normalização formal dos tamanhos das modelos na passerelas espanholas. Se por um lado é uma questão de justiça social; no boxe os peso pluma não combatem com os pesos pesados, por outro lado não deixa de ser preocupante observar a tentativa de normalizar as medidas do desejo. Para quando semelhantes medidas em prostíbulos e outras casas de prazer?


É tudo uma questão de garantias, César




Uns têm, outros não...





Depois de uma temporada no Noroeste Americano e outra nalgumas das praias mais queques do Algarve, sim foi em Setembro, é fora da Saison mas foi o que se pôde arranjar, estamos de volta. Resolvidos problemas informáticos que se estenderam por largo tempo e a braços com problemas existenciais, estamos prontos para mais uma época de libertação biliar.
Para não começarmos a época de modo muito violento interrogamos apenas os nossos leitores sobre as diferenças entre uma Madrassa (como diria Adolfo Luxúria Canibal : Au, Au, Feio, Mau) e um departamento de Teologia, como o que podemos encontrar, por exemplo, em Ratisbona? É que nos parecem que as temíveis Madrassas que estão a ser perseguidas e fechadas um pouco por todo o mundo também são templos do saber e aparentemente também não se dedicam exclusivamente à ciência teológica.


existencialismos

















Enquanto via o sofrível Lost in Translation oferecido na edição do Expresso (todos os filmes que o Expresso se prepara para oferecer são muito nhonhinhas, queremos ser sofisticados mas que não dê muito trabalho, existencialismos de classe média, entretenimento Ferrero Rocher, é decente, não ofende nem cansa, e dá para inúmeras citações de café, com abundantes notas de rodapé. Ao menos a Ingrid Bergman e o Humphrey Boggart estavam no Norte de África no meio da segunda-guerra mundial rodeados de espiões e aventureiros) e ouço um esgar sofrido do outro lado da rua: "o Manú nem lhe tocou, é sempre a mesma coisa." De regresso às preocupações quotidianas. Uma derrota por 3-0 é sempre uma óptima ocasião para pôr a vida no balancete e existencializar por ai


professores milionários


A RTP, porventura incomodada por alguns telefonemas, lá completou, no Jornal da Tarde, a notícia dos professores. Então é assim: os professores portugueses não são os terceiros melhores pagos de um conjunto de países da OCDE, são-no apenas tendo em conta o PIB per capita do país, critério aplicado a todos os casos nacionais. Não é bem a mesma coisa. Não é nada a mesma coisa.




























Antes do novo Expresso, antes do Sol do Saraiva, depois de duas primeiras páginas consecutivas do Diário Notícias sobre o "Apito Dourado", depois da primeira sexta-feira sem Independente, e no dia em que criou um edição repleta de suplementos, o Público resolveu, para atrair a maralha, fazer uma manchete sobre o envolvimento do presidente do Benfica na escolha de árbitros. A notícia é absolutamente especulativa e o título tem pouco a ver com o conteúdo. Qual foi o critério editorial?
Os críticos cinematográficos dos jornais de referência lá andam a bater no Almodovar, que está sempre a fazer o mesmo filme, que é uma chatice, que é demais, que já não é como era, e que, e tal. Pois não. Volver, além do habitual bestiário almodovariano de relações incestuosas e outros atentados à normalidade familiar, faz um retrato raro sobre o quotidiano, sobre as pequenas coisas, sobre gestos, hábitos e relações, sobre objectos, pudins, relações de vizinhança e sobre um mundo rural que se tornou urbano sem no entanto ainda o ser. Claro que esse mergulho na realidade pode ser uma chatice para quem vive entre o Chiado e o Chiado.
No meio do noticiário da RTP, entre o anúncio glorioso do novo acordo interpartidário que visa reformar a justiça do burgo e a notícia que Portugal está a crescer imenso, lá avançou o Rodrigues dos Santos que os professores portugueses eram, segundo a OCDE, os terceiros mais bem pagos de um conjunto de 30 países europeus. Sem mais. Do nada. Nem um contextozito, nem umas palavras sobre a amostra, nada. Mas alguém acredita nisto? Uma coisa é combater as corporações, outra é ter tempo de antena no meio de um telejornal sobre um assunto em que é essencial ganhar o apoio da opinião pública. É por estas e por outras que o Cintra Torres deve ter razão.



    António Vicente

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