HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




Fim-de-semana lusitano


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Com excepção do Correio da Manhã, da Rádio Renascença e do Monde Diplomatique todos os jornais portugueses optaram por assumir uma posição neutra perante o debate da IVG. O modo como essa neutralidade se converteu em matéria noticiosa não deixa de ser revelador do estado do campo mediático nacional. Utilizando um conceito a que Mário Mesquita aludiu no domingo passado, na sua última crónica no Público, poder-se-ia dizer que estivemos na presença de um jornalismo sem memória. No acompanhamento que os dois diarios de referência portugueses fizeram da campanha predominaram duas formas: a notícia e a opinião. Por um lado, os jornais procuraram noticiar as acções de campanha dos movimentos e dos partidos políticos que nela intervieram. Por outro lado, abriram os seus espaços de opinião a um conjunto de agentes oriundos dos mais diversos quadrantes, colocando essas opinião em confronto. Observamos, assim, a emergência de uma lógica noticiosa que se aproxima perigosamente do directo televisivo, com as falsas transparências que esse tipo de jornalismo procura vender. Foi evidente, tanto no Público como no Diário de Notícias, a ausência de comparações com a campanha anterior, apenas superficialmente desenvolvidas. As questões paralelas ao tema principal, mas essenciais para a sua compreensão e para uma tomada de posição informada, foram geralmente desprezadas, o que permitiu despolitizar o debate, levando a que a campanha resvalasse para o campo da pericialidade médico-jurídica e dos valores morais e religiosos. Um exemplo. A educação sexual nas escolas foi considerada, por ambos os lados, um dos instrumentos essenciais para reduzir as gravidezes não desejadas, e por arrastamento o número de abortos. É uma questão que permanece, independentemente da natureza legal ou ilegal da prática. O que qualquer órgão de comunicação social neutro e competente faria perante esta situação seria recordar o que se passou nos últimos nove anos e apresentar um balanço aos seus leitores. Quem é que tentou introduzir programas de educação sexual e quem os combateu. Não tivemos, porém, nada disto. A neutralidade da imprensa foi conquistada ao espaço da pornografia, com a consequente demissão por parte dos diários do papel mais básico que podem desempenhar num espaço público democrático: não apenas reflectir as posições mas também de reflectir sobre elas.



    António Vicente

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