HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




Um pouco de sociologia eleitoral de pacotilha


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No referendo de 2007 o "não" cresceu mais de 200 mil votos. O "sim" teve, no entanto, quase mais 1 milhão de votos. Diga-se que dos quase 9 milhões de inscritos votaram menos de 4 milhões. O número de votantes oficial é de 43.61% mas, se acrescentarmos, como devia ser, digo eu, os brancos e os nulos, alcançamos 45,54%. Olhando para o mapa eleitoral, assim de esguelha, diria, sem surpresas, que o factor fundamental que explica a direcção do voto é a diferença entre espaço urbano e espaço rural. Isto nota-se em quase todos os distritos, mas diferenças entre os concelhos urbanos e os concelhos rurais. A vitória do sim é bastante clara naqueles distritos onde tradicionalmente a esquerda não é tão forte. No Porto, por exemplo, o "sim" passou de 189 mil votos para 351 mil votos. Isto deve-se, fundamentalmente a concelhos como o Porto, Gaia, Maia, Gondomar, Valongo e Matosinhos. Em todos os outros o "sim" perde. Num concelho como Paços de Ferreira, o "não" passa dos 70%, em Felgueiras tem 63% e em Marco de Canaveses 64%. Note-se, porém, que em 1998, nestes dois últimos concelhos, o não teve quase 82%. É visível as pequenas grandes vitórias do "sim" mesmo em distritos onde perdeu. O "sim" dobrou o número de votos em Bragança, em Braga, na Madeira, em Viseu, e Viana do Castelo. Se olharmos para as capitais de distritos nestas regiões vemos uma enorme aproximação, mas ainda com o "não" à frente. Nos distritos mais populosos a sul, a vitória do "sim" é esmagadora. Na cidade de Lisboa, o sim ganha em todas as freguesias, apenas na Lapa a coisa foi por muito pouco. Alfama e o Castelo são os bairros mais pelo "sim". Diga-se que em Santa Comba Dão, distrito de Viseu, terra do grande português, o "sim" ganhou. O país dualista continua a existir, mas ainda assim, está um pouco mais urbano e laico. Um pequenito indício de algo.



    António Vicente

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