HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




1.º de Maio


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Num país onde trabalho é privilégio e grande parte da população evolui no gigantesco sector informal da economia, posição que não dá direito a desfile, o 1.º de Maio é relativamente curioso. Grande parte dos manifestantes que atravessam a Av. 25 de Setembro pertence ao terciário e enverga com orgulho t-shirts alusivas aos empregadores, entre os quais se destacam, pelo número de manifestantes, os principais bancos do país, filiais do BCP, da Caixa e do BPI, patrocinadores, aliás, da almoçarada que se segue à manifestação. Como os sindicatos estão próximos do partido do governo, o protesto é mitigado, caracterizando-se por um conjunto de palavras de ordem que confirma os grandes objectivos da política central: a luta contra a SIDA, erradicação da pobreza, aumento da produtividade. Das reivindicações propriamente laborais, muito pouco. É pena, porque se há contexto em que elas são urgentes é precisamente o moçambicano. Mas como Frelimo, cuja legitimidade histórica sempre passou pela luta contra uma sociedade classista, segue hoje uma política que acentua a desigualdade entre classes, a situação torna-se bizarra. O lado esquerdo do espaço político moçambicano, aparentemente ocupado pelo partido no poder, está na verdade vazio. Seria essencial que alguém o ocupasse.



    António Vicente

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