Comentar os comentadores é um exercício chato, e onanista, no mau sentido do termo. A produção do consenso e a naturalização da ordem têm, porém, nestas figuras um dos seus eixos centrais. Os recentes apelos de alguns dos comentaristas nacionais sobre a questão do encerramento da fábrica da GM na Azambuja são um exemplo tipíco da forma como a arbitrariedade é a pouco e pouco induzida no senso comum. Veja-se o caso de José Manuel Fernandes que com o discurso da racionalidade económica e da inevitabilidade do fecho da fábrica, e de muitas outras na europa, solicitava ao Governo para que não interviesse na disputa. JPP, aka "JeanPierre Papin do espaço mediático tuga", reclamava aqui há uns tempos sobre o debate há portuguesa. Dizia o distinto senhor que em Portugal se ataca a contradição e nunca a posição. Só para chatear, é nesse sentido que vamos seguir. O ataque à contradição, ou ao
bias, é nos tempos que correm uma das poucas possibilidades para que o pensamento relacional possa confrontar a atomização das questões que caracteriza grande parte do pensamento público português, que em cada caso vê um caso e a cada um deles aplica a grelha de leitura que mais lhe convém.
O tipo de posições defendidas a propósito da fábrica da GM, por exemplo por JMF ou JPP, evacuam da sua lógica argumentativa as condições laborais, económicas políticas e sociais em que a produção industrial se desenvolve em muitos dos países para onde são deslocalizadas as unidades de produção. Isto é, toda a questão dos direitos humanos mais básicos desaparece sob o peso de um economicismo puro e duro. " É mais barato, deslocalize-se!"
Por outro lado, os argumentos ligados aos direitos humanos são um dos eixos centrais de legitimação das invasões que se têm observado nos últimos anos um pouco por todo o planeta. O espalhar a democracia e liberdade como designio da civilização europeia. É curioso que esta polinização da liberdade só suceda em mercados mais ou menos fechados ou com matérias primas mais ou menos indispensáveis aos invasores. Os argumentos, no entanto, seguem aqui uma l+ógica moral e política que está de todo ausente noutros casos.
Não significa isto que por aqui sejamos defensores dos direitos humanos. Antes pelo contrário. Todavia esta forma de duplo pensar, por parte dos produtores de opinião, não deixa de ser perfeitamente ilustrativa dos projectos e das lógicas que enformam a construção do mundo contemporâneo. Como dizia um amigo meu:- Ou há moralidade, ou comem todos!
Se o Iraque se invade, a fábrica fica!