HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




Sábado desportivo


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A democratização do televisor, pelo menos nas partes centrais de Maputo, tirou as pessoas da rua. Durante o Portugal-Irão restavam alguns vendedores a impingir bugigangas a turistas e a outras pessoas para quem o futebol não é assim tão importante: intelectuais fundamentalistas, freaks de África, viciadas em novelas à compra do trapo, caçadores de leões e outros indigentes. O sol não permitia que os ecrãs públicos trabalhassem, mas mesmo à noite, as ruas, não particularmente seguras, não se enchem. Claro que também está bastante frio, chegando as temperaturas a cair, em noites mais geladas, a baixo do 25 graus. Os moçambicanos já andam orgulhosamente armados de cachecóis, sabe-lhes um bocadinho à Europa. Mas no futebol só dá África. Ontem o Notícias, jornal que está para a Frelimo como a CNN está para o governo americano, dizia "Angola: por que nos fez sofrer assim?" A vitória do Gana deixou tudo eufórico e o meu taxista preferido, o velho senhor Bento, lá disse, "ficou provado que o preto também sabe pensar". E pensaram muito bem, despachando em grande estilo os extrordinários checos. Peseiro nos comentários, com a sua análise fina que não está presa aos caprichos da bola, feiticeira miserável que nos rouba o olhar, mas à geometria das posições em campo. Foi bom. À noite, no Daily Show, John Stewart procurou perceber qual a razão que explica o afastamento dos americanos em relação ao futebol. Um dos habituais especialistas do programa explicou que o futebol era uma metáfora da guerra, do combate entre nações, e que era evidente que os Estados Unidos não precisavam de metáforas para a guerra, preferindo usualmente uma abordagem mais prática. Do jogo de Portugal ficou um longo bocejo. Os jogadores iranianos, com uma pinta modernaça, pronta a combater os estereótipos mais idiotas sobre a nação persa, formaram um conjunto débil e inoperante. Não deixa de ser interessante que, até agora, foram os treinadores do país do "jogo bonito", os grandes racionalistas e desencantadores do jogo.



    António Vicente

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