No Glossário do excelente Ciberdúvidas a entrada "Futebolês" refere-se a: "Linguagem estereotipada muito utilizada no meio futebolístico, à base de frases feitas ou imagens desgastadas de todo. Algumas são autênticos disparates, outras, apenas, ridículas. Alguns exemplos desta gíria muito própria: "Apostado em ganhar", "averbar uma clamorosa derrota", "contra-ataque venenoso", "denunciar fome de bola", "denotar sentido de baliza", "direccionar [a bola]", "faltou objectividade atacante", "impedido de penetrar na área adversária", "incidência(s) do jogo", "intenção de flanco", "milita nos escalões cimeiros", "moldura humana" ,"muita ofensividade", "posicionamento", "postura em campo", "prestação" (em vez de actuação, exibição, ou desempenho) ,"recepcionar" [em vez de receber: "o Sporting vai recepcionar em Alvalade o Benfica"...], "retenção da posse de bola" (ou "ficar com a posse da bola") "trabalho ao nível do entrosamento", et., etc. Mas há, também, palavras e expressões do futebolês excelentemente inventadas, que constituem autênticas preciosidades. Por exemplo: «bola à flor da relva», «no enfiamento da área», «cruzamento largo e tenso», «[pontapé de] canto em mangas arregaçadas», «deu nas orelhas da bola», etc., etc".
A definição faz algum sentido, mas talvez seja demasiado dura com o futebolês. A falta de imaginação é real, mas temos que considerar que os campos específicos de actividade criam os seus próprios vocabulários e que estes, em jeito de blasfémia, não têm realmente de estar de acordo com o formalismo gramatical ou com o senso comum culto que determina não poderem duas palavras estar juntas. Tudo isto para defender o "contra-ataque venenoso". Sempre gostei do "contra-ataque venenoso". Contra-ataque toda a gente sabe o que é; junte-se-lhe venenoso e interprete-se o adjectivo como eficaz, astuto, célere e mortal.