HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




Escrita light a favor da democracia


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Não deixa de ser interessante o modo como certa elite pensante deste país se sente chocada pelo facto de uma alternadeira ter tido a veleidade de escrever um livro: acto nobre, reservado aos eleitos. Mal escrito, dejecto literário, exposição da vida privada, vouyerismo, vingança doméstica, etc. Realmente não se deve aproximar de Proust. O povo põe-se a escrever livros e corremos o risco de ver a nossa privacidade burguesa ir para o espaço. O livro não é apenas, no entanto, uma exposição de maior ou menor gosto sobre a vida privada de um casal. Estamos ainda longe do pântano inglês. O livro de Carolina Salgado foi a única forma eficaz da autora se proteger. A quem, em alternativa, se podia dirigir? À polícia, aos tribunais? Talvez. Mas Carolina, pelos vistos, no submundo onde vivia, e de onde não pode escrever livros, contactava regularmente com polícias, comissários, juízes, advogados. Seria a esses senhores, que encontrava nos bares onde trabalhava e mesmo na casa que partilhava com o Giorgio, que se iria queixar? Quantas pessoas sabem das histórias de Carolina? Quantas falaram? É esta, ou não, a imagem de um país onde os fracos não podem defender os direitos perante os fortes. No meio disto tudo, Carolina é a parte fraca e o seu futuro pode não ser o mais feliz. Ao contrário do que se tem dito, este foi o bom resultado de uma certa democratização cultural. A existência de um mercado mediático de consumidores permitiu que o livro fizesse sentido. Foi a democratização da informação que obrigou a máquina política e judicial a fazer algo. Sem o impacto do livro, nada teria mudado. Mais uma vez.



    António Vicente

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