HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




Ainda a política


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"Portugal", em termos teóricos, poderia fazer sentido. Mas a falta de hierarquização, aparentemente positiva, pode significar, com o tempo, que algumas matérias acabem por desaparecer. Que "Portugal" vai ser o mostrado pelo Público? A discussão das categorias, no abstracto, sem perceber como a coisa corre na prática, é redutora. É notório que as páginas sobre política, reduzindo o vocábulo à função de descrever o folhetim partidário, tinham pouco interesse. Ainda assim, para além da prática, a discussão das designações faz sentido. Por exemplo, "Portugal" não é necessariamente melhor do que "nacional". O nacional pode ser discricionário, é certo, mas também, sem o pernicioso "ismo", remete para a condição do cidadão perante o estado. Portugal, por si só, não significa nada, nem direitos, nem deveres, é apenas uma pertença, um sentimento. Levado o método inclusivo até ao fim nada estaria para lá de Portugal e do Mundo, apesar de Portugal, até ver, ainda pertencer ao Mundo. Mas como os leitores são portugueses, argumento já utilizado para chatear outros teóricos da conspiração nacionalista, Portugal ainda vai fazer sentido. Mas por que não distribuir o desporto, a economia, os media e as artes por "Portugal" e pelo "Mundo"? Por que razão sobrevive a "economia", o "desporto" e as "artes" como realidades autónomas e não sobrevive a política, a educação ou a sociedade? A razão é o mercado. Mas como as coisas não são unívocas é um facto que a retirada da política, à custa da sua inexistência temática, para uma secção mais acessível e aberta pode implicar que chegue a leitores repelidos pelo aborrecimento ou a especialização dos seus assuntos. Mas não deixa de ser um passo duvidoso sobretudo para um jornal que, em teoria, não precisaria de tal estratagema.



    António Vicente

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