Quando tenho que fintar, com técnica apurada, o monte de dejectos caninos que povoam alegremente o passeio da minha rua lembro-me sempre daquele simpático anúncio do aspirador que engole o cão. De como o processo civilizacional demora a entrar. Da mesma extracção destes dejectos temos o acompanhamento televisivo do caso da menina de Penafiel raptada. Um nojo. Os pivots de noticiário, professores, escritores, jornalistas consagrados lá servem, aparentemente sem protesto, a pornografia sensacionalista. As redacções não protestam, ninguém protesta. A coisa atingiu o ridículo absoluto quando, depois de mostrarem a casa miserável da mãe biológica, nos informam que a rapariga vai ser seguida por uma equipa de psicólogos, necessária para atenuar o possível choque entre o ambiente da casa da raptora e o ambiente da casa dos pais. Isto é, vão ser precisos vários psicólogos para habituar a rapariga a viver na miséria.