Rui Santos desempenha um papel único no espaço mediático desportivo português. Apesar do gel, dos fatos, dos nós das gravatas, das gravatas e dos caracóis que lhe dão um toque xunga, tão do nosso agrado, mas que o tornam odioso aos olhos de muitos dos espectadores do fenómeno desportivo, Rui Santos utiliza a tribuna semanal de que dispõe na SIC Notícias para abordar temas que mais ninguém parece estar disposto a discutir. Ao contrário do que sucede com os jornais desportivos que orgulhosamente de demitem da tarefa de pensar o jogo, para desempenharem a nobre função de agências de comunicação dos principais clubes e promoverem alguns interesses mais ou menos ocultos que circulam pelos corredores do poder desportivo, Santos tenta abordar algumas questões estruturais do futebol português. A sua homília semanal apenas se detêm no relvado por breves instantes, os necessários para prender o espectador. O resto do tempo é passado a comentar os negócios patrimoniais dos clubes e as transferências, mas apenas a título exemplificativo dos processos de gestão do futebol português. Fala sobre o Apito Dourado e as suas relações com o sistema de classificações dos árbitros. Da pobreza dos espectáculos que nos são oferecidos quase todos os dias da semana e o modo como se articulam com uma cultura de astúcia chico-esperta. Enfim, é dos poucos que procuram colocar o dedo na ferida, apesar de algum encanto provinciano qu mantém com uma certa cultura de fair-play inglesa. Ontem, porém, no fim da sua intervenção não foi capaz de reprimir algumas das pulsões esclavagistas que ainda permanecem grandemente enraízadas na cultura desportiva nacional. A visita de Deco a uma casa de putas em Londres após o encontrou com o Brasil motivou a exploração sensacionalista do facto pelos tablóides ingleses. Em Portugal, Rui Santos, indignado com a falta de intervenção das autoridades federativas perguntava quem mandaria em Deco naquela noite, depois do jogo jogado e do artista ter feito o seu trabalho. Barcelona ou a selecção, interroga-se o comentador, espantado com a permissividade dos donos do artista. A ideia de o jogador estar de folga e de poder fazer o que bem entende nos seus tempos livres é que não lhe passou pela cabeça.