Thakrar, sexta-feira, junho 29, 2007
nuno
O problema da arte contemporânea continua a ser a aura do original. Ir ao Louvre ver a Gioconda não é a mesma coisa que observar a reprodução que a tia Inácia tem por cima do televisor. Ao contrário do que dizem os críticos da cultura popular, a reproductibilidade da obra de arte permitiu que todos pudessem ouvir as mesmas músicas e os mesmos filmes sem a preocupação da aura. No caso da música, a aura é recuperada pelos concertos, onde se paga couro e cabelo para, ensalsichado entre a multidão, se olhar e ver lá ao longe o artista. Vi mal, ouvi assim assim, fui pisado, maltratado pelos seguranças, mas estive lá. De volta à arte contemporânea, a aura é que anima o mercado. O original, pintado pela mão do mestre, é que interessa para efeitos contabilísticos. A verdade, porém, é que 99,9% das pessoas não consegue distinguir um original de uma boa cópia, e aqui incluo alguns especialistas. Ora, Lisboa, depois de dispensar o Dr. Joe, podia criar no CCB o melhor museu do mundo, comprando uma cópias bem feitas das obras artes da pintura. Se a reprodução for fiel, se o tamanho for idêntico, se as cores estiverem lá todas, que se lixe a aura e a mão do mestre. Fica a obra. A única coisa que eu já não posso ver é o Maradona jogar à bola.
Thakrar, quinta-feira, junho 21, 2007
No final do Benfica-Sporting, em juniores, realizado no Estádio da Luz, em que o Benfica afastou o Sporting da luta pelo título com um golo do Hu Dubao (grande tesouro) no último minuto, depois de o Sporting ter passado a maior parte do jogo à frente do marcador e em controlo do jogo (a mística)
um amigo lampião enviou-me uma mensagem que dizia o seguinte: "O grande tesouro fodeu-vos". É chegada a hora do troco. A grande fortuna tá-vos a foder!
Ainda a este propósito não deixam de ser examplares as declarações de Louçã sobre a OPA ao Benfica. Disse que acompanhava a vida do clube à distância e considerava a OPA uma jogada especulativa, mas que não se deveria misturar futebol com política. Bagão e Seara não se apresentam tão pudorentos e manifestam o seu apoio à iniciativa. Louçã e a esquerda em geral preferem apostar na moralidade em vez de partirem para a luta. O Bloco e Louçã falam de tudo; empresas privadas, transportes públicos, grupos de teatro, cinemas de bairro, praias alentejanas e mais o caralho, mas de bola, isso é que não, valha-nos deus...
Thakrar
Às segundas à noite entre as 23 e a meia-noite a Antena 2 apresenta-nos um dos programas mais, como classificá-lo, "únicos" da paisagem mediática portuguesa:
Questões de moral de Joel Costa. Só para terem uma pequena ideia do calibre da coisa apresento já os títulos dos últimos programas: " Uma democracia da indiferença", " Os cínicos da sociedade fria", "Junho - Uma teologia democrática" ou ainda " Liberdade, liberalismo e indivíduo". O autor, num tom já desusado, no bom sentido do termo, disserta sobre acontecimentos históricos que vão desde a precarização das condições de trabalho nas sociedades contemporâneas às grandes guerras passando por tudo, acompanhado por um fundo de música variada. O tom solene remete-nos para um imaginário revolucionário-poético traduzido com uma solenidade romântica. Mas por mais palavras que busque para descrever o programa todas serão insuficientes. É ir ao site da Antena 2 ver, ou melhor, ouvir a coisa pessoalmente. Do melhor.
Thakrar
Como qualquer jornal neutro deve fazer, o DN vai hoje entrevistar, a propósito da OPA de Berardo sobre o Benfica, o economista e sócio do Benfica Bagão Félix. Este, claro, está de acordo e acha muito bem. O que é mais surpreendente é que nem os lampiões que frequentam este estabelecimento nem a blogosfera vermelha nem ninguém está muito preocupado com o assunto. Para um clube que faz gala na sua história democrática, participativa e popular é com certeza de muito valor.
Adenda às 19:12 -
Já foram
Thakrar, quinta-feira, junho 14, 2007
No Sporting actual investe-se na mística e na identificação total dos jogadores com o clube. Para além de ter na primeira equipa uma série de jogadores oriundos dos escalões de formação e que já levam alguns anos no clube, agora também se nota esse esforço em relação aos reforços. 'Pato' Toranzo, jogador do River Plate que este ano esteve emprestado ao Atlético Rafaela da segunda divisão argentina, é o exemplo perfeito desta filosofia. O Atlético Rafaela precisava de ganhar o jogo da última jornada para subir à primeira divisão e estava a ganhar por 2-0 a três minutos do final. Tudo se conjugava para a subida de divisão até que o adversário numa reviravolta memorável marca dois golos em três minutos. A partida terminou empatada e o Rafaela não subiu. Temos reforço.
Thakrar, quinta-feira, junho 07, 2007
Conhecido pelo mau feitio, não posso deixar passar em claro a dica do Toni e a infeliz comparação com o Professor. Mais, perdoem-me desde já a imodéstia: mano, o teu problema não era a velocidade de expressão verbal, é a complexidade do discurso.
Thakrar, quarta-feira, junho 06, 2007
A greve geral não existiu, como a guerra do Iraque. Não existiu por duas razões que já foram abordadas, partindo de diferentes pontos de vista, pelo António, nesta mesma baiúca, e pelo
Rick Perigoso no Spectrum: não existem sindicatos dignos desse nome em Portugal, por um lado, e por outro as transformações estruturais da economia e do trabalho em tempos de capitalismo retro-avançado ( a original via portuguesa para o capitalismo) impedem muitos de participar na greve. Mas não foi pelas notícias que chegámos a esta conclusão. O que descobrimos nas notícias foi mais uma vez a fixação pornográfica com os directos e o rebarbatismo com os transportes públicos. Junte-se uns pózinhos de indigêngia intelectual dos jornalistas, que nada mais fizeram, para lá dos já referidos directos nos barcos do Cais do Sodré, do que ouvir os números dos sindicatos e do Governo. O resultado é a simples anulação da greve enquanto acontecimento e a desideologização completa da luta social. Tudo o que nos foi apresentado foram pessoas a tentarem chegar ao trabalho sem que os mafiosos dos sindicatos dos transportes as deixassem.
Etiquetas: Foda-se, Ou, só oito dias depois é que me lembrei que o título pefeito para a posta era " A greve dos acontecimentos"