As notícias sobre a alegada corrupção no futebol italiano dão que pensar. O clube de que se fala, a Juventus, é o protótipo do clube empresa, símbolo da Itália industrial, da Itália do Norte, a Itália não mediterrânica. Historiador do desporto informado não deixará de atribuir a esta situação social e histórica a vantagem competitiva demonstrada pela Juventus. As suas vitórias seriam resultado da aplicação ao futebol de uma racionalidade moderna, de um cientismo desportivo, bem alimentado, bem se vê, pelo milhões de Agnelli e da indústria automóvel. A análise não estará errada, mas mesmo assim nada diz acerca do modo como se mantêm as vantagens competitivas. E é aqui que os esquemas corruptos da alta finança, não confundíveis com o som e a fúria dos actos mais cinematográficos da mafia siciliana, surgem a apoiar as vantagens já adquiridas. Em Nápoles muita gente deve estar a sentir-se vingada. A coisa pode servir, aliás, de metáfora para as dramáticas impunidades que seguram a mão invisível, e aparentemente científica, do mercado.