Na última quarta-feira, no telejornal da RTP, anunciava-se que a TAP e uma Associação de Turismo protestaram contra a ideia, veiculada pela ANA (Administração Nacional de Aeroportos), de que o aeroporto da Portela podia não aguentar o volume de tráfego neste verão próximo. Na mesma reportagem, o Ministro Mário Lino afirmou que, até à Ota estar concluída, teríamos que aguentar esta situação difícil. No mesmo dia, uma hora depois, a RTP Internacional – sim agora apanho a RTP Internacional - repetia o programa Prós e Contras da última segunda-feira. Nessa ocasião, o jornalista Ricardo Costa afirmou que, perante o protesto generalizado, o governo contratara uma agência de informação para tratar de produzir notícias sobre a Ota. Pode ou não a Portela suportar um volume de tráfego mais intenso? Ninguém sabe. O que se sabe é que da mesma forma que se compram notícias também se compram estudos científicos. Seria interessante perceber o papel que estas agências tem tido no constante bombardear de notícias sobre a falência dos serviços públicos e a insustentabilidade da segurança social.
O programa sobre o livro de Manuel Maria Carrilho foi útil e divertido. Útil porque deu a conhecer o universo semiobscuro das agências de informação, organizações que vendem publicidade em forma de notícia, que vendem políticos, detergentes, etc. Divertido, porque: a) foi possível ver o homem que disse um dia ser a televisão capaz de vender presidentes da República como sabonetes a defender agora um jornalismo de rigor; b) ver um político vaidoso, que sempre utilizou os media para se promover, a morder a mão que o alimentou; c) ver um editor de uma estação que vive de notícias a achar que o papel das agências de publicidade é normal e que não vê o problema nenhum. Ninguém disse, claro, que quem fica de fora dos modelos que gerem “as novas formas de comunicação” corre o risco de deixar de existir. Ninguém disse que se trata de uma manipulação infame da opinião pública, que se trata da publicação de programas políticos e económicos como notícia, isto é, informação pretensamente rigorosa, muitas vezes embrulhada numa qualquer legitimidade científica. Produz-se assim a “verdade”. No final, algumas insinuações mas poucas conclusões. Como diria um conhecido vitivinicultor palmelão “Vocês sabem do que é que eu estou a falar.”