HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




Africanices e gabrielices


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Depois de mais um falhanço etnográfico no último domingo, o que diz muito sobre a minha hipotética vocação antropológica, fiquei em casa a assistir ao Gana-Brasil numa de etnografia televisiva entre dois canais moçambicanos e um angolano. Na TPA, televisão de Angola,lá vislumbrei a voz inconfundível do Gabriel Alves. O Gabriel, pelas entrelinhas, lá desfilou todos os lugares-comuns sbre as equipas e os jogadores africanos. Passou o jogou a dizer que o Brasil era uma desgraça e que estavam todos velhos, gordos e acabados e que o Gana, apesar de estar a jogar melhor, era ingénuo, infantil, imaturo, etc. A coisa atingiu o seu auge quando afirmou que, quando o Brasil apanhar uma equipa a sério, é que vai ver, para rapidamente emendar e dizer que bom, quer dizer, não que o Gana não seja uma equipa a sério, mas a imaturidade, já se sabe. No estúdio, o comentador de serviço na TPA tinha uma opinião diferente. Depois de introduzir o jogo afirmando que todos os antigos campeões do mundo estão a ser levados ao colo pela arbitragem, terminou a dizer que o Gana foi mais uma vez, como todas as equipas africanas, vergonhosamente roubado. Os canais moçambicanos foram mais razoáveis, mas não deixaram de qualificar o Brasil com adjectivos até agora apenas utilizados em equipas do centro e leste da Europa, esse monstros de frieza e eficácia. Entretanto, ainda em tempo de rescaldo, é relativamente bizarro que quando os jogadores passam o jogo à pêra uns com os outros a culpa seja do árbitro. Admitam a loucura, acontece, de vez em quando, porrada no pessoal.



    António Vicente

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