HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




Diário do Mundial III


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Noite etnográfica um pouco ao lado. À espera que a rede do Eagles me pudesse dar a metáfora das relações de classe em Maputo. Em certo sentido a coisa foi conseguida na noite anterior e mesma na de ontem, com algum jeito, chega-se lá. O município, em colaboração com alguns privados, montou ecrãs gigantes na cidade e os pés-de-chinelo deixaram o lado de fora da rede do Eagles, onde no Sábado torceram pela Costa do Marfim. Desconfio que a defesa da africanidade voltou ontem a ser mais forte, embora de forma mais ambígua. Do lado de dentro da rede do Eagles, lá estavam todos os sonhos de Gilberto Freyre em versão de classe média, mais da massa do que da cultura. À minha frente um grande grupo de indianos, que conhecia das discussões da marginal, a louvarem a lusitanidade num misto de português e gujarate, regado com umas litradas de cerveja e whisky. Devem estar todos a arder no inferno. Bastantes mulatos, com roupa de marca e carteira recheadas e alguns negros endinheirados a vibrarem pelo jogo do ex-colonizador. Os Tugas lá estavam, mais na versão emigrante do que na de colonizador. Um madeirense passou o jogo a dizer mal do árbitro e a dizer bem da Madeira, que agora quando vai a Portugal já nem sai do aeroporto da Portela, fica à espera do avião para o Funchal. Se fosse de barco escusava de ir a Lisboa. Não foi uma noite eufórica. Canal sul-africano com os comentários da Sport Tv. Barbosa. Uma das melhores exibições da noite; nem todos os grandes intérpretes do jogo sabem explicar a sua arte em palavras. Scolari. Fez o mesmo que Pakerman ou Eriksson: não há circo nem espectáculo, apenas contabilidade. Os noticiários locais não se alongaram em comentários, mas a leitura oficial é que a africanidade tem preferência sobre a lusofonia. Portugal ganhou mas perdeu porque ganhou por poucos. Em resumo, a selecção não se aproxima minimamente da popularidade dos clubes portugueses. O que é saudável. Mesmo o empregado do Eagles, que é vagamente parecido com o Michael Jordan, apesar de dizer que os angolanos têm a mania que "são pretos de primeira", não demonstrou apoiar a equipa do rectângulo. Fora de Portugal é bastante mais simples torcer pela selecção. Por esses lados deve estar impossível.



    António Vicente

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