Depois de assistir ao Brasil-França passei os dias seguintes a tentar ver um resumo do jogo que fosse de jeito. Nada. Imagens mal-amanhadas, o golo, alguns protestos e muita bandeirinha e comemoração de rua, ficando os infelizes que não assistiram ao encontro na mais profunda ignorância. Algumas horas antes, Portugal ganhou aos ingleses. Retirando o filtro da emoção nacional sobrou um jogo fraco e calculista em que os ingleses com 10 jogaram melhor do que os portugueses com 11, embora o Scolari, amigo, lá tivesse metido o Postiga para equilibrar as coisas. Alguém, além dos centrais e do Ricardo nos penalties jogou bem? Não me lembro, talvez o Miguel. Uma chatice, no geral. À noite tudo foi diferente, diferente e importante para o futebol. Parreira tem os melhores jogadores o mundo e acha que, se montar uma equipa sólida e chata, mais cedo ou mais tarde um dos craques decide. Scolari não é assim tão diferente. Contra os contabilistas houve Zidane, o grande circo de Zidane. O francês divertiu-se, com aquela forma de a bola se colar ao seu corpo, que aparentemente é pouco ágil. Jogou bonito mas nunca para a plateia, jogou bonito em beneficiou do jogo. Meteu o Brasil no bolso. Pelos resumos televisivos ninguém percebe o que Zidane fez, os pequenos toques, a leitura perfeita, um controle extraordinário sobre o corpo. Mas claro as televisões só querem bandeirinhas e transformar o Montijo na capital do país. As emoções do jogo ficaram todas com Zidane. Se continuar a jogar assim amanhã, estou preparado, 22 anos depois, para ter mais uma posição anti-patriótica.