HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




Miguel Garcia faz magia


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Em 1986 eu estava lá. Quando depois de uma derrota por 1 a 0 em Barcelona o Sporting deu a volta ao resultado em Alavalade 2 a 0... apenas para a doze minutos do fim, Roberto, salvo erro rematar à entrada da área passando a bola por baixo do corpo de Vítor Damas e em direcção às redes. Em 1991 vi o Oceno a falar três golos na cara do Zenga para depois levarmos dois secos em Milão. Com o Grasshoppers e o Rapida Viena. Com o Casino Salzburgo e o Real Madrid. Essa eliminatória define não apenas um clube, não apenas a biografia de um tipo mas todo um modo de estar na vida. Toda uma relação com o mundo. Depois de um Frango, com F maiúsculo de Lemaic, logo no início do jogo, o Sporting partiu para uma exibição memorável. Das melhores que pude asistir em vinte e poucos anos de futebol. 11 000 sportinguistas em Madrid e três bolas à barra depois, todas por juskowiak, se a memória não atraiçoa, a eliminatória vem aberta para Alvadade. O sporting faz o 1 a 0. Ataca mas não consegue mais. O Real empata, mais uma vez por Laudrup e com mais uma tremenda dádiva desse Maussiano guarda-redes. Já a meio da segunda parte o 2 a 1 para nós. Para não variar a esperança ressuscitava, milagre recorrente ali para aquelas bandas. E aí caíu o véu que encobre o nosso mundo e que sempre, mas sempre nos acompanhará. A cerca de doze minutos do fim do jogo e já numa situação de desespero Juskowiak apanha uma bola na meia lua à entrada da área do Real. Remata convicto e a bola vai ao poste... não satisfeita percorre toda a linha de golo da baliza do adversário...apenas para novamente bater no poste e ressaltar para a saída da pequena área. Num assomo final de crueldade, a esperança bate novamente à porta quando leva a bola para os pés do Balakov que mais uma vez remata...para a baliza... somente para a bola bater num jogador do Real e sair pela linha final.
Num momento atípico, no último lance da segunda parte do prolongamento da segunda mão da meia-final da Taça Uefa o mais improvável dos jogadores, Miguel Garcia, ainda tentou contrariar este destino, apenas para duas semanas mais tarde e somente depois do intervalo o Mundo mostrar-nos de novo a sua verdadeira face. O milagre estava justificado.
Eis o Sporting. Por quantos mais anos teremos que pagar pelo Cantinho do Morais?



    António Vicente

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