As transmissões televisivas do mundial de futebol andam, para utilizar um termo da constelação kumariana, pasteurizadas. O Maradona descontrolado de alegria junto aos adeptos argentinos deixou de interessar aos produtores do mundial. Inversamente, temos que gramar com inúmeros planos de Beckenbauer, na sua elegância conservadora, acompanhado de uma loura politicamente correcta. Ontem houve um momento que caracterizou esta pasteurização. Quando no final do jogo, alguns jogadores argentinos quiseram fazer a folha ao adjunto da equipa alemã, as imagens que começaram a mostrar o devaneio sul-americano foram rapidamente substituídas por um plano do público alemão em festa. É pena, porque aquilo prometia. Esta é a mesma lógica que aponta o dedo aos árbitros desculpando os jogadores, porque estes é que vendem publicidade. A pergunta que se tem que fazer é por que razão não se concedem aos árbitros outros meios para combater o erro? Qualquer programa de computador eliminava situações de fora-de-jogo e bolas que não se sabe se entraram ou se saíram. De resto, em termos de jogo, as transmissões não estão más, embora se abuse dos planos de pormenor, dos planos dos bancos, dos planos dos adeptos, em detrimento dos planos largos do jogo. Os planos de pormenor deviam ser privilegiados nas repetições, mas não no directo. Os resultados de ontem acabaram por ser merecidos. O treinador argentino tem melhor equipa, mas em vez de jogar para a goleada, que era possível, preferiu entrar na contabilidade e lixou-se. Deixar o Messi no banco para fazer entrar o mais que duvidoso Júlio Cruz é crime suficiente para explicar a derrota. A Itália esteve surpreendentemente bem. O jogo até não foi desagradável e os italianos não deviam marcar três golos num jogo há quase 20 anos. Hoje há mais e se a minha bola de cristal continuar a funcionar bem, lá temos o Brasil e a Inglaterra nas meias. E claro cumprimentros à lagartada, sem eles a nossa existência seria mais triste, formar-se-ia um vazio irreparável.