Nos escombros do combate a Rui Rio, o status quo da arte portuguesa agita, via notícia no Público, "É a cultura, estúpido", o argumento economicista. A cultura, numa versão lata em que não se distingue o peso dos factores dentro do bolo, dá dinheiro, muito dinheiro. Tenta passar-se a ideia de que o investimento do estado na cultura não é um subsídio cultural mas participa de um investimento industrial. Procura-se, assim, abafar as críticas realizadas aos subsídio-dependentes, já não mais um conjunto de artistas etéreo, mas agentes económicos ao serviço das finanças da nação. O argumento acaba por tropeçar em si próprio, ao remeter para a esfera mercantil a relação entre produção e recepção cultural. O princípio da criação passa a servir o argumento económico, isto é, procura responder-se à pergunta como vender? Aceitam-se, assim, as regras do jogo. A responsibilização do artista perante o público, algo inerente á lógica do subsídio, obriga a uma generosidade diferente, muitas vezes ignorada por egos artísticos relativamente distantes do mundo. A aritmética financeira devia apenas ser o resultado desse esforço.