HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




Histórias de um país moderno


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Ontem houve bola às cinco da tarde. Bola a um domingo às cinco da tarde. O que prometia ser um momento de romantismo nostálgico rapidamente se transformou num banho no país moderno que Portugal procura ser, mas ainda não sabe muito bem como. Com uma assistência de 14 mil pessoas só consegui entrar para o estádio às cinco e meia. A hora e meia anterior foi passada numa fila na bilheteira do Alvalade Séc. XXI à espera de uma possibilidade para adquirir o ingresso. Contingências da informatização do sistema de aquisição de bilhetes e da moderna e racional gestão que foi implementada no clube. Durante esta hora e meia, por entre debates sobre Carlos Martins, as falcatruas da direcção ou a pobreza das exibições o tema do aborto também veio à baila. O interlocutor, a corfirmar receios anteirores, confirmou o seu voto pelo não. Ainda o justificou com um argumento racional de início. A lei portuguesa é igual à espanhola, portanto o problema não está na lei. Temos é que melhorar a sua aplicação e não podemos andar a udar de lei de cada vez que uma é mal aplicada. Confrontado com o reaccionarismo da classe médica portuguesa, o argumento evoluiu um pouco. O jovem achava que as duas situações que deveriam permitir a realização do aborto já estavam consignadas na lei e que não podiamos andar por aí a fazer abortos à toa. Mais uma hora de debate e lá formos parar ao argumento da necessidade de responsabilizar as pessoas pela sua conduta sexual. A culpa. Mais mais fixe do que isto tudo foi ver o mecanismo mental através do qual o pensamento conservador funciona. O medo da mudança mas essencialmente a necessidade de garantir que independemente das práticas privadas a moral pública continua a garantir a supremacia dos "valores colectivos" em detrimento da liberdade individual. A dos outros. O meu amigo não é um bronco sexista da província, ideal-tipicamente falando é claro. É um licenciado, jovem, social-democrata, viajado, bebe copos, tem namoradas e usa contraceptivos: "Então e se engravidares uma gaja e apesar de tu não quereres ela quiser ter o filho, também não podes escolher, pois não?"



    António Vicente

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