Alexandre Soares, director do Record, comentou para um jornal gratuito os resultados de um estudo sobre violência doméstica. Notou a continuação da violência sobre as mulheres, sinal do atraso do país, mas, enfatize-se o mas, aquilo que o chocou verdadeiramente, enfatize-se o verdadeiramente, é a violência sobre as crianças. Seguiu indignado discorrendo sobre a questão e terminando com uma subtil defesa da justiça popular. Traduzindo, bater nas mulheres é chato e tal, mas não muito, assuntos domésticos, já se sabe, ficam entre portas e nunca deram uma boa notícia. Cultiva-se a velha definição imbecil, que aparentemente continua a fazer escola, que notícia é o homem que morde no cão e não o cão que morde no homem. No caso da violência sobre as crianças, segundo Soares, a questão é absolutamente, totalmente, incomparavelmente, diferente, não tem nada a ver. O tipo que bate na mulher é um tradicionalista, digamos, um pouco bafiento é certo; já o que bate na criança é um ogre, útil para vender jornais e noticiários e apelar para o sentimento justicialista: pendura-se já o tipo na primeira árvore que se vir por aí.
Na última semana falou-se nos media de um notícia extraordinária: as pessoas que estudam têm uma esperança de vida maior. Procurei perceber porquê, qual o ingrediente inerente ao estudo que provocava a longevidade. Não dizem. Estou disposto a apostar, sem recorrer a vastas equipas de especialistas universitários, que, além das pessoas que estudam, as que têm carros com altas cilindradas também vivem mais tempo, bem como as que passam mais férias fora do local de residência, e as que tem casas com mais assoalhadas, as que investem em fundos de investimento, enfim, os que têm mais dinheiro. Mas é apenas um palpite.
João Carlos Espada, com aquela franqueza superior do otário, aparentemente muito apreciada em departamentos universitários por essa Europa fora, jura a pés juntos que a origem do problema do Iraque, como toda a gente sabe, são as lutas entre seitas islâmicas. Como é evidente.
Suspeito que a investigação sobre a relação entre o estudo e a longevidade tenha sido pensada por um Espada qualquer, já que as lógicas são semelhantes. Talvez fosse possível pôr o Espada à frente do Record; comer umas sandes de torresmos e umas minis numa rolote à saída de um estádio perto de si fazia-lhe bem. Mandava-se, entretanto, o Alexandre Soares para Oxford ou Cambridge, para um necessário polimento. Melhor ainda seria enviar os dois de férias para Bagdade.