Cá por casa deixou de se comprar o Público. Uma das razões apontadas foi o desaparecimento dos comentadores vinculados a partidos políticos, mais um sinal da despartidarização que é também, neste caso, um sinal de despolitização. Diga-se que o Pacheco Pereira, segundo este novo critério, não pertence a um partido político. Já o Mesquita, que foi para a FLAD e que além disso é relativamente incómodo, teve que ir pregar para outra freguesia. Não fazendo sentido discutir as categorias sem avaliar o seu conteúdo é possível analisar a lógica geral que presidiu à transformação de um jornal. No caso do Público, a lógica foi a de tornar a vida mais facilitada a um imaginado leitor menos exigente. Popularizou-se mal. A eliminação de um conjunto de categorias, não foi apenas o "nacional" e a "sociedade" mas também a "educação" e a "ciência", procura simplesmente que a categoria não afaste o leitor. Diga-se que a própria fusão de suplementos fez decrescer, aparentemente, o tamanho de alguns textos, veja-se as críticas musicais e as cinematográficas. Argumentar-se-á que as notícias continuam lá, como antes. Além de não se saber exactamente se isto é verdade, o que pode acontecer é que, contando-se o número de notícias, o número de palavras, o grau de investigação necessário para a sua elaboração, cheguemos à conclusão que tudo está muito diferente. Imagino ainda que, no respeitante à organização do jornal, estas fusões, além de implicarem despedimentos, fragilizem alguma especialização necessária para alcançar algum rigor na elaboração da informação. Seja como for, estando a especular, estou disposto a doar três dos meus cinco testículos à Santa Casa da Misericórdia, se se provar que a criação da categoria "Portugal" procurava criar uma nova e bondosa dialéctica informativa que vai desatar a emancipar o pessoal. O problema da hierarquização noticiosa, ou a falta delta, não tem origem nos jornais, mas na televisão. Os noticiários estão muito mais perto do modelo do Correio da Manhã do que do Público. Este foi atrás.