HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




as fusões temáticas


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Cá por casa deixou de se comprar o Público. Uma das razões apontadas foi o desaparecimento dos comentadores vinculados a partidos políticos, mais um sinal da despartidarização que é também, neste caso, um sinal de despolitização. Diga-se que o Pacheco Pereira, segundo este novo critério, não pertence a um partido político. Já o Mesquita, que foi para a FLAD e que além disso é relativamente incómodo, teve que ir pregar para outra freguesia. Não fazendo sentido discutir as categorias sem avaliar o seu conteúdo é possível analisar a lógica geral que presidiu à transformação de um jornal. No caso do Público, a lógica foi a de tornar a vida mais facilitada a um imaginado leitor menos exigente. Popularizou-se mal. A eliminação de um conjunto de categorias, não foi apenas o "nacional" e a "sociedade" mas também a "educação" e a "ciência", procura simplesmente que a categoria não afaste o leitor. Diga-se que a própria fusão de suplementos fez decrescer, aparentemente, o tamanho de alguns textos, veja-se as críticas musicais e as cinematográficas. Argumentar-se-á que as notícias continuam lá, como antes. Além de não se saber exactamente se isto é verdade, o que pode acontecer é que, contando-se o número de notícias, o número de palavras, o grau de investigação necessário para a sua elaboração, cheguemos à conclusão que tudo está muito diferente. Imagino ainda que, no respeitante à organização do jornal, estas fusões, além de implicarem despedimentos, fragilizem alguma especialização necessária para alcançar algum rigor na elaboração da informação. Seja como for, estando a especular, estou disposto a doar três dos meus cinco testículos à Santa Casa da Misericórdia, se se provar que a criação da categoria "Portugal" procurava criar uma nova e bondosa dialéctica informativa que vai desatar a emancipar o pessoal. O problema da hierarquização noticiosa, ou a falta delta, não tem origem nos jornais, mas na televisão. Os noticiários estão muito mais perto do modelo do Correio da Manhã do que do Público. Este foi atrás.



    António Vicente

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