Ao ouvir as palavras dos actores negros que receberam este ano os prémios da academia de cinema de Hollywood tudo sugere o funcionamento perfeito de formas subtis de controlo social. Entregar prémios a negros tornou-se num óptimo método de integrar uma minoria cuja capacidade de protesto sempre foi politicamente incómoda. Não significando isto que esses actores não mereçam os prémios, as suas palavras, perante o reconhecimento do país, são quase sempre um desastre político, que cauciona o cada vez mais mitológico sonho americano. Mais do que reflectirem condições colectivas, mais determinadas por posições de classe do que pela pertença étnica, estes discursos salientam esforços individuais, histórias heróicas de pessoas que, crescendo em condições difíceis, conseguiram receber um prémio tão importante. É justo dizer que o estado americano conseguiu meter no bolso o perigo representado pela colectivização do protesto dos negros. Fê-lo à conta da repressão, da introdução de droga nos bairros, mas sobretudo por estas formas subtis, pelo domínio da cultura popular, pela criação de vedetas, no cinema, na música, no desporto. Os exemplos do negro bem sucedido, com poucas excepções, ajudam a manter na base da pirâmide social a grande parte dos seus co-étnicos. A raça cobre a classe. No contexto americano, onde a política de classe sempre foi muito frágil, as imagens de mobilidade social continuam a ter uma eficácia tremenda, mesmo quando não passam de simples imagens.