Num dos vários pavilhões da IURD que pululam pela cidade um pastor grita e as massas respondem com grande energia. Mais um milagre. Domingo de manhã é o dia em que sente mais o poder das igrejas. Os crentes vestem as melhores fatiotas e de repente a cidade que era dos pés descalços e que agora é dos pés de chinelos, resultado da democratização do chinelo produzido em série, parece invadida por gangs de meninos do coro. É uma espécie de purificação dominical que varre todas as sujidades da urbe. As igrejas lutam pelas almas, pela criação de uma classe trabalhadora respeitável que , nos tempos do colonialismo, seria mais uma "classe indígena respeitável", com esperança de alcançar o estatuto do assimilado e entrar no universo dos direitos do colonizador As igrejas corrigem os modos, as aparências, os usos e costumes que tomam por bárbaros e procuram no reino dos céus a resolução dos problemas da terra. Onde falta a mão esquerda do estado, movimentos cívicos e políticos, as igrejas encontram o terreno ideal para lançar a âncora. Ganham por falta de comparência, e percebe-se que ganhem.