HotelLisboa

O porteiro do estabelecimento, Semion, acendera todas as lâmpadas das paredes e o lustre, assim como o candeeiro vermelho em cima da entrada. (Aleksandr Kuprin)




O Bode Expiatório



Tem sido aqui tema recorrente, o bode expiatório. A falta de autoridade de Peseiro para os o fracassos do Sporting. Os pretos para a violência na escolas. As putas brasileiras para as Mães de Bragança, que só por si seriam dignas de uma série inteira de postas. Os judeus para o Adolfo. O PREC para toda a história subsequente de Portugal e para os governos de direita. Enfim, a lista é infindável. O que gostaríamos de saber é se a necessidade de um bode expiatório é um universal cultural, como forma de simplificar os problemas e restaurar a paz social, tal como Evans- Pritchard o descreveu entre os Azande, ou se é típico de determinadas estruturas sociais? É condição necessária ou suficiente?
Está bem que Bush também tem o seu Bin- Laden, é verdade, mas Jorge Arbusto também não é tido como um dos mais valiosos espécimes humanos no que à racionalidade toca.



É um problema saber por onde começar a tratar dos problemas sociais. É bom, porém, saber que existem pessoas e instituições que não se deparam com este tipo de problemas. Manuel Alegre e o seu movimento do Banho Maria querem ajudar os velhotes a resolverem os seus problemas e cagaram para o problema do aborto porque criava problemas no interior do próprio movimento. Aníbal Silva, por seu turno vai mais à bola com a exclusão social. Conceito higiénico para a perptuação das lógicas assistencialistas do Estado e predatórias do mercado. A televisão e os meios de comunicação social, pelo contrário, preferem o pânico, o trauma e a transferência como formas preferenciais para enquadrar o fenómeno. Vêm estes comentários a propósito do genial programa transmitido ontem no Canal 1, logo depois das notícias, sugestivamente intitulado "quando a violência vai à escola". Antes de mais, o tornar casos pontuais em lógicas gerais. Em segundo lugar a nota talvez mais saliente, e que passou despercebida (ou não) a todos os intervernientes, foi como rapidamente um debate sobre a violência no espaço escolar foi deslocada para o campo dos problemas étnicos, isto é " A culpa é dos pretos". As imagens captadas pelas câmaras escondidas nas salas de aulas só mostravam pretos, de não mais de dez anos, em pequenas zaragatas na sala de aula. Sem pedirmos justificações ao Ministério, que tão prontamente acede a este tipo de pedidos por parte dos media, ou sequer a Maria Fátima Bonifácio, gostaríamos ainda apenas salientar a brilhante participação do psicólogo de Serviço: Eduardo Sá, se não nos falha a memória. Para este jovem a solução é retirar os putos indisciplinados da custódia dos pais porque estes são incapazes de lhes providenciar modelos de autoridade. Mai nada!


Cotações



Já que é de livros e faxaria que falamos, a Feira do Livro deste ano é capaz de ser uma boa forma para avaliar o valor de mercado de três personagens e respectivos quadros ideológicos que de um modo ou de outro circulam entre a política e a reflexão, mas sempre, de modo mais ou menos camuflado, numa linha ora vanguardista, ora elitista, ora distintiva. É à escolha do freguês:

O Livro Verde de Khadafi -Prefácio Editora - 1, 50 euros (não é a edição gira)

Novas Sínteses, contributos para a história contemporânea de Portugal - Kaúlza de Arriaga -Prefácio Editora -2,50 euros

Homo Videns, Televisão e pós-pensamento - Giovanni Sartori - Terramar - 3,00 euros


Gabi is back



Gabriel Alves foi contratado pela TV angolana para acompanhar todo o mundial de futebol.
Primeiro o colonialismo agora isto.


É isto?


Enquanto circulava à procura de ilustrações para a anterior posta futebolística deparo-me com esta pérola. Uma fotografia do estádio da Machava, aquando de um Moçambique Líbia. Não sabemos o ano e desconhecemos o autor a fotografia, tal como já não nos recordamos do link. Uma pena, mas de qualquer modo é disto que o meu povo gosta!



Os gestores do novo futebol moderno capitalista teriam tido um colapso se tivessem assistido ao emocionante Desportivo de Maputo-Ferroviário de Maputo a contar para mais uma jornada do Moçambola. Senão vejamos: entrada no estádio absolutamente indisciplinada obrigando a intervenção policial, claques misturadas, pessoas em algumas bancadas a movimentarem-se em massa de um lado para o outro, pessoas a correr à volta do campo na pista de ciclismo que rodeia o velho estádio da Machava, vendedores ambulantes a comerciarem tudo o que é possível imaginar, espectadores que passam o jogo a gozar com os jogadores das duas equipas, danças, bruxos e bruxarias, bilhetes a dois euros, tambores energéticos e uma alegria absolutamente descontrolada na altura dos golos. Kusturica nos trópicos. Só visto.


A bandeira


Não li artigos nem comentários sobre a "bandeira mais bonita do mundo", mas ouvi o jornalista da RTP, em directo, a falar de mulheres como quem fala de paletes de desodorizantes. Nuno Gomes lá procurou dizer que estava muito feliz por ver ali todas aquelas pessoas. Mas o jornalistas insistia com os jogadores "o que é acho destas mulheres todas aqui". Assim de repente a coisa pareceu-me degradante. As mulheres não foram convocadas para o estádio para apreciar um espectáculo. A sua aproximação ao futebol foi tristemente manipulada por um nacionalismo bacoco patrocinado por um banco privado. Os jogadores, no alto da tribuna do Estádio nacional, arquitectura made in Estado Novo, olhavam para baixo onde um grupo de mulheres à beira do histerismo berrava e cantava o hino de Portugal. O mesmo país onde 1 em 3 mulheres já foi vítima de violência doméstica e onde as mulheres continuam a ser discriminadas em múltiplas áreas da vida quotidiana.


O 10



Rui Costa é um jogador raro. O seu regresso ao Benfica significa que os amantes do jogo podem voltar a ver em Portugal um dos jogadores mais elegantes e inteligentes da última década. O modo como conduz a bola é lindíssimo, tal como é extraordinária a forma como passa e marca o ritmo de toda a equipa. Os italianos chamam a este tipo de jogador um fantasista. É dos que restam a honrar o significado futebolístico da camisola 10. É bom, no entanto, que os adeptos do clube estejam conscientes que Rui Costa não tem 25 anos. Se o físico já não é o mesmo, e a capacidade física de Rui Costa nunca foi o seu ponto forte, o seu papel pode ser fundamental para a motivação do conjunto. Não é demasiado arriscado afirmar que Rui Costa, pelo modo como jogou e joga, por tudo o que aprendeu em Itália, fará com tranquilidade a transição para uma bem sucedida carreira de treinador.


A verdade


Na última quarta-feira, no telejornal da RTP, anunciava-se que a TAP e uma Associação de Turismo protestaram contra a ideia, veiculada pela ANA (Administração Nacional de Aeroportos), de que o aeroporto da Portela podia não aguentar o volume de tráfego neste verão próximo. Na mesma reportagem, o Ministro Mário Lino afirmou que, até à Ota estar concluída, teríamos que aguentar esta situação difícil. No mesmo dia, uma hora depois, a RTP Internacional – sim agora apanho a RTP Internacional - repetia o programa Prós e Contras da última segunda-feira. Nessa ocasião, o jornalista Ricardo Costa afirmou que, perante o protesto generalizado, o governo contratara uma agência de informação para tratar de produzir notícias sobre a Ota. Pode ou não a Portela suportar um volume de tráfego mais intenso? Ninguém sabe. O que se sabe é que da mesma forma que se compram notícias também se compram estudos científicos. Seria interessante perceber o papel que estas agências tem tido no constante bombardear de notícias sobre a falência dos serviços públicos e a insustentabilidade da segurança social.

O programa sobre o livro de Manuel Maria Carrilho foi útil e divertido. Útil porque deu a conhecer o universo semiobscuro das agências de informação, organizações que vendem publicidade em forma de notícia, que vendem políticos, detergentes, etc. Divertido, porque: a) foi possível ver o homem que disse um dia ser a televisão capaz de vender presidentes da República como sabonetes a defender agora um jornalismo de rigor; b) ver um político vaidoso, que sempre utilizou os media para se promover, a morder a mão que o alimentou; c) ver um editor de uma estação que vive de notícias a achar que o papel das agências de publicidade é normal e que não vê o problema nenhum. Ninguém disse, claro, que quem fica de fora dos modelos que gerem “as novas formas de comunicação” corre o risco de deixar de existir. Ninguém disse que se trata de uma manipulação infame da opinião pública, que se trata da publicação de programas políticos e económicos como notícia, isto é, informação pretensamente rigorosa, muitas vezes embrulhada numa qualquer legitimidade científica. Produz-se assim a “verdade”. No final, algumas insinuações mas poucas conclusões. Como diria um conhecido vitivinicultor palmelão “Vocês sabem do que é que eu estou a falar.”


Pós Modernos



Bagão



Bagão Félix (Católico Apostólico Romano) dizia num programa de televisão que era hoje em dia muito difícil assumir a Fé e a Crença religiosas em Portugal, num mecanismo clássico de vitimização, depois de momentos antes nos ter interrogado sobre que fenómeno poderia juntar um milhão de pessoas todas as semanas em Portugal, ou levar 500 000 a Fátima? O que nos outros, Muçulmanos, é fanatismo e atraso para nós (eles) é racionalidade. Como dizia o tipo da Opus Dei que estava presente no mesmo debate, a mortificação corporal é uma questão de escolha. Um utilitarista racional, portanto.
É à pála deste tipo de figuras e declarações que se torna complicado nos tempos que correm descortinar onde é que acaba o Portugal salazarento pobre e honrado das touradas, da religião, das mães de bragança, do respeitinho et.al e começa o moderno Portugal de Cavaco, de Fátima, de Barrancos e do Campo Pequeno, de JPP e da "vitória do XVI Governo Constitucional", isto é, o Portugal da Sociedade do Espectáculo, versão remediada.
Quando a Opus Dei vai à televisão, quando um ex-Ministro da República fala incessantemente sobre bola, código da vinci e mortificação, quando o Campo Pequeno à boleia dos novos processos capitalistas de mercantilização e insularização da cidade se converte num centro comercial e sala de espectáculos e a RTP nos oferece três horas da sua inauguração ou Fátima de torna um ritual mediático sabemos que não estamos já em pleno Salazarismo, mas também podemos desconfiar, se não formos pós-modernos, que se calhar também ainda de lá não saímos.


Príncipio do prazer



O futebol de Peseiro merece não apenas uma posta, é digno de poemas épicos. A esse tema voltaremos, porém, mais tarde, embora não em verso. O discurso oco da generalidade dos treinadores portugueses não encontra eco em Peseiro. Ainda há um bocado, num programa da SIC Notícias, Peseiro dissertava sobre os diversos factores que podem afectar o rendimento de um jogador, perante o olhar evidentemente deliciado de David Borges. O Homem, com H grande, falava-nos do papel dos media, da crescente comercialização do Jogo, da influência que os patrocinadores exercem neste processo, dando exemplos da sua experiência no Real Madrid. O modo como todos estes factores produzem interesses conflituantes num mesmo atleta. Argumentava que o futebol não pode ser separado da sociedade e sobre o modo como acaba por incorporar os defeitos e as virtudes desta. Distinguia entre o futebol amador e o profissional, etc, etc, etc... concluindo que no futebol contemporâneo o domínio técnico-táctico do jogo é apenas uma parte infíma do trabalho do treinador.
Apesar daquele ar de quem nunca está bem em lado nenhum é um deleite ouvi-lo falar sobre futebol. Apesar de muitos sustentarem que análises deste teor são apenas um bode expiatório para as derrotas elas representam talvez o mais articulado discurso sobre futebol que temos, em Portugal.


As estrelinhas da Opus Dei


A CNN - sim, agora apanho a CNN - a CNN convidou um representante da Opus Dei para comentar o filme Código Da Vinci. Frank Varelo - podiam ser mais discretos - lá apareceu, magro, no seu fato preto, camisa branca, gel a apanhar o cabelo puxado para trás e sapatinho brilhante, a dizer que a Opus Dei, ao contrário do que o livro e o filme faziam transparecer, não era uma organização tenebrosa. Justificou a sua presença como uma forma de abrir a "Obra" à sociedade. A entrevistadora perguntou-lhe se realmente já tinha visto o filme. Frank disse que vira o filme ontem mas que não tinha gostado. O representante da Opus Dei não se preocupou muito em rejeitar a tese central do filme, preferindo enfatizar que o mesmo era muito chato e comprido, com pouca acção, e que a sua companhia até tinha adormecido, que o Tom Hanks não ia mal, mas que a actriz não estava à altura. Infelizmente não puxaram o suficiente por ele, porque o Frankie estava lançado e é possível imaginá-lo a afirmar que ao lado dos Sopranos e da saga do Padrinho, o filme de Ron Howard era para meninas.



Neste simpático cyber café, onde me arranjam forma de escrever com um teclado português, estão a passar neste preciso momento, e infelizmente na última meia-hora, o disco de um senhor chamado James Blunt, também conhecido como o autor do tema "You are Biutifól ... Biutifól, Biutifól". Não sei o que pensam deste senhor mas a impressão que me causa é tão física que há duas canções que estou a tentar encontrar os insultos adequados e não consigo. E o pior é que está aqui um irmão moçambicano a cantar por cima da voz do Blunt. Virgem santíssima.


O apóstolo


A Mana Sat, canal da Igreja Maná que, como não podia deixar de ser, chegou ao continente das conversões, merece atenção. Jorge Tadeu é o mestre de cerimónias. O antigo bispo da igreja, agora humildemente promovido a apóstolo, está quase sempre presente com o seu ar de vendedor se seguros porta a porta algures nos arredores da Mealhada. A maior parte da programação é conversa em tom de palestra, uma espécie de missa em formato reduzido. Também há alguns filmes, quase todos de temática biblíca, anunciados como películas sem violência e sem sexo. Inspirando-se na biblía a tarefa não é fácil. De resto há de tudo. Rap evangélico que em vez de vender rabos e mamas vende a palavra do senhor embrulhada em rastas e ténis da Nike. O maior produto da estação são, no entanto, os milagres. O apóstolo Tadeu vende a cura para tudo. Quem cura é Deus, claro. Mas cura mesmo, todas as enfermidades. Nada lhe escapa. Claro que, como refere Tadeu, há dois tipos de cura, a imediata e a progressiva. No primeiro caso Deus resolve no momento. No segundo resolve sine die. Há muitas canções, sopeiras de braços no ar e vendedores de banha da cobra brasileiros.


Tiros certeiros



No quadro entediante do discurso político-partidário nacional não deixa de ser refrescante a análise que Manuela Ferreira Leite faz às relações entre PS e PSD, as suas intenções políticas, as respectivas clientelas eleitorais e aos seus métodos de propaganda. Depois destas afirmações já ninguém pode dizer que os políticos são todos uns mentirosos: "Os socialistas colaram-se às nossas ideias e tiveram o descaramento de nos imitar a toda a hora, com uma política baseada na propaganda, dando a ideia de acção, trabalho e mudança. Por isso é difícil, é muito didícil quando se pretende transmitir as nossas bandeiras que a opinião pública assimile as diferenças. Público, P.14 (para quem não acreditar). Sublinhados nossos.


Rusga reloaded


O DN de ontem informava-nos que a PSP isolou um bairro " sem câmaras de TV". Foi o Estrela de África, na Damaia, diz-nos o Público. Desta vez foram apanhadas 20 armas de fogo. Por cá, como chatos que somos não podíamos deixar de fazer a referência ao acontecimento. Informando, para mais, os leitores que continuamos à espera das rusgas nos condomínios fechados da Linha, ou da Quinta da Marinha, e também de algumas palavras dos nossos dignos representantes de esquerda.
Aliás, já que desta vez a rusga atingiu um bairro de pretos seria de esperar uma reacção mais entusiástica do que aquela que não vimos por parte do Bloco de Esquerda aquando dos acontecimentos no Bairro da torre. Devem estar a guardar-se para os franceses, certamente. Ou terá sido a falta das câmaras?


Sobre as vantagens competitivas


As notícias sobre a alegada corrupção no futebol italiano dão que pensar. O clube de que se fala, a Juventus, é o protótipo do clube empresa, símbolo da Itália industrial, da Itália do Norte, a Itália não mediterrânica. Historiador do desporto informado não deixará de atribuir a esta situação social e histórica a vantagem competitiva demonstrada pela Juventus. As suas vitórias seriam resultado da aplicação ao futebol de uma racionalidade moderna, de um cientismo desportivo, bem alimentado, bem se vê, pelo milhões de Agnelli e da indústria automóvel. A análise não estará errada, mas mesmo assim nada diz acerca do modo como se mantêm as vantagens competitivas. E é aqui que os esquemas corruptos da alta finança, não confundíveis com o som e a fúria dos actos mais cinematográficos da mafia siciliana, surgem a apoiar as vantagens já adquiridas. Em Nápoles muita gente deve estar a sentir-se vingada. A coisa pode servir, aliás, de metáfora para as dramáticas impunidades que seguram a mão invisível, e aparentemente científica, do mercado.


Estruturas e conjunturas



Por mais desprezo que o nacionalismo nos mereça é impossível não ceder à tentação de comentar a convocatória da selecção para o Mundial, e de um modo mais geral o trabalho de Scolari.
Comecemos pelo insulto fácil: Scolari é um treinador de merda. Dito isto, é também campeão do mundo, embora até a avó do Luis Campos o pudesse ser, se treinasse o Brasil. Também levou a selecção portuguesa aos seus melhores resultados de sempre.
Portugal apenas marcou presença em três fases finais de campeonatos do mundo (66, 86, 2002), duas delas com participações absolutamente desastrosas. Participações em campeonatos da Europa foram apenas 4 (84, 96, 2000, 2004), aqui geralmente com bons resultados. Levou Portugal à sua primeira final, e é apenas pela segunda vez na sua história que Portugal vai ao Europeu e ao Mundial consecutivamente. Vendo a coisa por este prisma o homem até não parece mau. Ao contrário do que se diz, mesmo o grupo de apuramento para o Mundial oferecia algumas possibilidades para o desastre, como a história do futebol português o demonstra. Scolari tem ainda o mérito de limitar algum do caciquismo que tradicionalmente corrompe a selecção. Figuras como Madaíl ou Pinto da Costa apenas levam desprezo, ou troco, do sargento. Tem ainda o mérito de ter criado um grupo coeso e estável.
Aqui é que as coisas se começam a complicar. A criação deste grupo foi quase forçada. Depois de muito tempo a recusar seguir o Porto de Mourinho, apenas quando encostado à parede pelos fracos resultados é que Scolari abdicou da sua teimosia. Para dois anos mais tarde cair no mesmo erro. Se a ideia de mérito é essencial no funcionamento de uma selecção nacional, não se compreende a insistência numa série de jogadores que pouco antes do Europeu nem sequer eram convocados, e agora apesar de nem sequer jogarem nos seus clubes têm lugar garantido na equipa. Como explicar a ausência de Moutinho e Quaresma?
Os resultados, anteriormente citados, também enganam. Portugal tem apresentado resultados sucessivamente melhores nos Europeus.
Perante tudo isto como aquilatar da influência de Scolari? Reflexo de transformações estruturais no futebol português (desenvolvimento das camadas jovens, cada vez mais jogadores em clubes de elite, com a consequente derisão das rivalidades internas que poderiam prejudicar as prestações da selecção, etc...)? Ou serão os recentes resultados resultado da capacidade técnica e táctica de Scolari e acima de tudo da sua habilidade enquanto psicólogo e educador de estrelas mimadas?


Marco Paulo













Eu tenho dois amores/ Que em nada são iguais/ Mas não tenho a certeza/ De qual eu gosto mais/ Mas não tenho a certeza.../ De qual eu gosto mais.../ Eu tenho dois amores/ Que em nada são iguais.../ Uma é loira e acontece/ Entre nós amor, ternura/ Tão loira que até parece/ O sol da minha loucura.../ Mas a outra tão morena/ É tal qual um homem quer/ Porque embora mais pequena/ Ela é muito mais mulher.../ Eu tenho dois amores/ Que em nada são iguais/ Mas não tenho a certeza/ De qual eu gosto mais/ Mas não tenho a certeza.../ De qual eu gosto mais.../ Eu tenho dois amores/ Que em nada são iguais.../ Meu coração continua/ Sem saber o que fazer/ É melhor amar as duas/ Sem uma doutra saber.../ Que este encanto não se acabe/ E eu já pensei tanta vez/ Pois enquanto ninguém sabe/ Somos felizes os três.../ Lalala-rala-ralala/ Lalala-rala-rala/ Lalala-rala-ralala/ Lalala-rala-rala.../ Lalala-rala-ralala...


Ainda na Finlândia



A política empiríca


Embora o empirismo possa muitas vezes ser sinónimo de desconhecimento, de uma relação tacteante com o mundo ou de desarticulação ele pode também significar humildade, abertura e criatividade. Não querendo cair cair no tecnocratismo cavaquista, se há algo que o caso das maternidades demonstra é a extrema preguiça e ignorância de toda a oposição, comunicação social, grupos corporativos e populações interessadas. Se não, vejamos.
Tal como nas escolas do interior, com o argumento de melhorar serviços o governo propõe o encerramento de uma série de maternidades. A motivação não é essencialmente de cariz economicista mas visa melhorar os serviços prestados à população. É credível. Não me parece que alguém que passe a ter que se deslocar 13 Km em vez de 4Km, saia profundamente prejudicado. Os casos de Famalicão (passa para St. Tirso) e Barcelos (passa para Braga) são exemplares. Outros há que serão mais discutíveis, como Mirandela. O que eu gostaria de ter visto por parte dos meios de comunicação social e dos partidos de esquerda era a réplica ao governo fundamentada em dados concretos. Terão os hospitais capacidade para receber os novos utentes? As classes médias de Barcelos et al. deixaraõ de ir dar luz a Braga, deixando o hospital para as classses baixas, com a resultante quebra na qualidade dos serviços? Quantas clinícas privadas é que vão abrir nos locais onde as maternidades vão ver encerradas? Os serviços fechados vão ser compensados por uma cliníca geral mais eficaz e competente? etc, etc, etc...
O que é que vimos? Em Barcelos, que nos parece demostrativo da situação, a população entra numa onda paroquialista e diz que não quer que os filhos nasçam em Braga, sem mais. Os funcionários do serviço encerrado fazem o número da virgem ofendida e entram em greve, como se a sua incomptência fosse a única justificação possível para alguns problemas, A esquerda junta-se às forças políticas tradicionalistas, sem sequer se interrogar ou apresentar dados que possam contradizer o Governo. O cidadão eleitor esse é tratado como um atrasado mental, mesmo pelas forças que se dizem progressistas. A exploração dos sentimentos mais primários das populações não é exclusivo da direita. Uma esquerda séria teria juntado os dados, demonstrado empiricamente quais as unidades que poderiam ser encerradas, quais é que não. Teria exigido que o espaço e os recursos libertos fossem ocupados por uma secção de cliníca geral mais eficaz e mais o caralho. Mas não. Só os vemos a estrebuchar contra o fim dos serviços públicos, os direitos adquiridos e mais o caralho, sem me explicarem, porquê.


O sangue


Um dos sinais mais evidentes da tabloidização de um jornal histórico como A Bola é a presença de cronistas como Miguel Sousa Tavares. Ontem, na sua crónica semanal, no meio do habitual exercício de fanatismo clubista, o proeminente jornalista apeteceu-lhe chatear o jogador Sá Pinto. Até ai, tudo bem. Há poucos portugueses que acordam sem vontade de chatear o Sá Pinto. Sousa Tavares, no entanto, chocado com as insinuações de Sá Pinto quanto ao mérito da vitória do Porto no campeonato, utilizou uma argumentação inusitada: "Já por diversas vezes aqui elogiei o Sá Pinto. Estou por isso à vontade para agora dizer que acho as suas declarações inadmissíveis, sobretudo em alguém como ele, que, por nascimento, educação e por experiência acumulada, tem obrigação de não ser como aqueles jogadores que dizem a primeira patacoada que lhes vem à cabeça." Apesar do nascimento, da educação e da experiência acumulada, Miguel Sousa Tavares não consegue, especialmente quando fala de futebol, de proferir disparate atrás de disparate.



Fialho de Almeida, com algum mau fígado, chateava alguns concidadãos, nomeadamente os escritores portugueses estrangeirados, amantes de Paris e mais reconhecidos do que ele próprio. Não confudir, claro, a crítica ao estrangeirismo com a crítica ao estrangeiro.

"O estrangeirismo, ou monomania de adaptação do estrangeiro à vida nacional, enxertado sem critério nem precisão imediata, e até com manifesta inferioridade nos resultados, é uma das formas de pessimismo dos povos adormecidos por um longo regímen de vícios públicos e privados, e no resvale da autonomia cívica, que unicamente poderia dar-lhes força. É o primeiro acto dos que perderam a fé na individualidade própria, macaquear a dos outros, não sob os respeitos dum profundo plano de regeneração e vida nova, mas unicamentente para mudarem de aspecto, exteriormente, como se muda de fato. Hoje quase tudo viaja, ainda que mal, pois a viagem como complemento de educação em vez de ser entre nós um folhear metódico de civilizações em desenvolvimento, com estudo de observação paralela, e aplicações sistemáticas à nossa, reduz-se maioritariamente a um patuscada em Paris, com permanência nos cafés de mulheres, na debocheira jovial dos teatros, e corrida em fiacres aos monumentos e locais pitorescos que os guias citam. Em resumo, a feira das Amoreiras em mais longe, mais caro e mais solene." Os Gatos (algures entre 1889 e 1894)


o treinador



A quota das palmeiras




VI



IV




III




II







Sound system


Na ausência de um bombante aqui ao lado segue o link para os fabulosos sons da Nação Zumbi e Bairro da Torre Sound System



Camarate tem uma longa história de terrorismo. Umas vezes por decifrar, outras mais evidente e de natureza policial. A recente rusga no Bairro da Torre terá violado todas as regras do estado de direito. Para apanhar meia dúzia de armas e um par de traficantes de armas a bófia cercou um bairro inteiro e revistou todas as casas do mesmo. Na televisão, Mário Crespo, por exemplo, fez um fellatio de nível internacional ao superintendente da PSP. Se a legitimação mediática de um modelo securitário fundamentado nos medos de uma classe média cada vez mais enclausurada nos seus pequenos espaços de segurança não é surpreendente, não deixa de ser insólito o silêncio de toda a esquerda perante a violação flagrante dos direitos civis da população de um bairro inteiro.
Por outro lado, resta saber se se trata de uma reacção corporativa do aparelho repressivo do Estado, na medida em que muitos dos seus membros foram recentemente implicados no tráfico de armas, ou se estamos perante um nova (velha) forma de actuação das polícias e da sua articulação com o poder judicial.
Se assim for para a próxima quero uma rusga geral num condomínio fechado na Linha.


Portugal no seu melhor ou very typical




Aviso ao leitor, ao único. Isto não é uma crítica de cinema, porém o filme de Daniel "Grundig" Blaufuks, não vou fazer tracadilhos fáceis com o fuks, "Um pouco mais pequeno que o Indiana" merece alguns comentários. Com algum atraso é certo, mas de qualquer modo comentários. Ao contrário de Maputo, em Lisboa o typical continua a abundar.
Pelo pouco que se depreende da obra, a ideia do Sr. Grundig era banquetear-nos com uma visão disfórica do país, para contrabalançar as euforias nacionalistas do Euro 2004. Propósito até respeitável.Vai daí o mano pega numa câmara e vai pelo país fora filmar os novos estádios, as casas dos emigras, o pessoal a piquenicar em matas à beira da estrada, os labregos atolados em engarrafamentos à beira-mar, os pataqueiros a banharem-se em quarteira, as rotundas e o camandro. Os estádios desertos do pós-euro servem quase de fio condutor, se o houvesse. Isto tudo filmado sem qualquer tipo de nexo. O bacano limita-se a bombardear-nos com imagens que, sei lá, o meu primo com três anos era capaz de apanhar. O sócio cruza a representação de um presente decadente com entrevistas a turistas estrangeiros nos anos 60, provavelmente com uma finalidade irónica difícil de captar, pelo menos para os broncos como eu. Aqui vê-se um país typical, mas atrasado. A massa que poderia de algum modo salvar a merda do filme era o argumento, ou os comentários do amigo. A indigência mental atinge aqui o seu expoente máximo. Os comentários saem na voz desencantada do incompreendido. Nada de tentar perceber ou ligar os fenómenos. Nada de "politiquices" nas palavras do própio. A única coisa que nos é apresentada são estatísticas avulsas de sondagens de optimismo, alguns indicadores, daqueles manhosos, vindos do Banco Mundial ou coisa que o valha, e notícias na TSF sobre pedofilia.
Vista esta merda toda interrogamo-nos: - O que é que este gajo quer?
O gajo não quer o desenvovimento urbano, tal como o temos conhecido. É justo. Não quer o país typical dos turistas dos anos 60, embora tenha saudades do tempo em que os pataqueiros não iam todos para o Algarve. E também não quer um país à "europeia", apesar de ser com as estatísticas europeias que nos confronta o tempo todo. Não não temos nada de novo sobre o pátria, nem nenhum tipo de ideia/projecto/sonho/seja lá o que for que lhe queiram chamar. O trabalho de investigação foi nulo. É uma cena "pessoal". De modo geral, a melhor forma para o artista justificar a sua banalidade.
A única coisa que o Grundig nos oferece é uma quantidade brutal de racismo de classe do ponto de vista do intelectual Belas Artes/Bairro Alto/ King/Lisboa. Mais uma vez a bater nos mesmos, os pataqueiros que não se aproximam da sua sofisticação. Very typical de uma certa indigência presunçosa armada ao cosmopolita.
Um Portugal no seu melhor para a malta sofisticada. O pessoal aplaudiu, reassegurada a sua superioridade. Podíamos estar a falar de José Gil, falamos de Blafuks.


A praia


Finalmente a praia. Fim de tarde tropical, com o sol a esconder-se entre as palmeiras. Os barcos chegam à praia do bairro dos pescadores para descarregar o famoso marisco do Índico. O ambiente é nativo, sem sombra de turista nem bugiganga. As bancas do peixe, feitas em madeira e caniço, esperam vazias o produto do mar, sobrevivência do bairro. Alguns intermediários, vendedores no mercado central de Maputo, donos de restaurantes, lutam pelos melhores preços. Mulheres africanas em trajes regionais ajudam a descarregar o camarão, falando entre si em língua autóctone. Estávamos já na areia fresca, quando se aproximou um barco. Um valoroso pescador estava à proa sinalizando algo para quem o esperava na praia. O barco, já velho, era frondoso. Estava agora muito perto. Olhei bem para o seu casco e notei uma inscrição, o nome que distinguia a digna embarcação dos outros barcos que sustentavam aquela comunidade. Olhei melhor e ZÁS, ignomínia, o barco chamava-se Bon Jovi. Está um gajo há sei lá quanto tempo à espera de um bocadinho do very typical e apanha, sem preparação nem aviso, com a modernidade decadente nas trombas



Num país onde trabalho é privilégio e grande parte da população evolui no gigantesco sector informal da economia, posição que não dá direito a desfile, o 1.º de Maio é relativamente curioso. Grande parte dos manifestantes que atravessam a Av. 25 de Setembro pertence ao terciário e enverga com orgulho t-shirts alusivas aos empregadores, entre os quais se destacam, pelo número de manifestantes, os principais bancos do país, filiais do BCP, da Caixa e do BPI, patrocinadores, aliás, da almoçarada que se segue à manifestação. Como os sindicatos estão próximos do partido do governo, o protesto é mitigado, caracterizando-se por um conjunto de palavras de ordem que confirma os grandes objectivos da política central: a luta contra a SIDA, erradicação da pobreza, aumento da produtividade. Das reivindicações propriamente laborais, muito pouco. É pena, porque se há contexto em que elas são urgentes é precisamente o moçambicano. Mas como Frelimo, cuja legitimidade histórica sempre passou pela luta contra uma sociedade classista, segue hoje uma política que acentua a desigualdade entre classes, a situação torna-se bizarra. O lado esquerdo do espaço político moçambicano, aparentemente ocupado pelo partido no poder, está na verdade vazio. Seria essencial que alguém o ocupasse.



    António Vicente

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